segunda-feira, 17 de junho de 2013

Cozinha de Manifesto: Wam Kat - O Cozinheiro das multidões

Sabe quando, de repente, você tenta observar à sua volta para ver o mundo que você conhecia e o que acaba encontrando é uma realidade que mais se assimila ao que você assistia nos desenhos animados? É assim que eu estou me sentindo ultimamente – em um episódio da Guerra Civil dos X-Men... Parece bobagem. Mas não sei se vocês estão se dando conta da gravidade do que tem acontecido no país.
Eu tenho visto muito baderneiro sendo chamado de manifestante – e vice e versa; tenho  visto a polícia demonstrando cada vez mais o seu despreparo, diante das lentes das mídias; a população se revolta; os políticos mechem seus pauzinhos pra lucrar interesses e os olhos do mundo, que já estão voltados pra nossa realidade em função da Copa das Confederações, ficam mais arregalados... Que fazer com essa mistureba toda? Cozinhar. Esta pode ser a solução.
Como forma de protestar hoje resolvi escrever este post – que no fundo foi mais uma provocação que eu aceitei. Estava eu calminho quando, pelo facebook, recebi esta mensagem: “Publique algo, sobre como e o que se alimentar nas manifestações! rs Depois te cobro os créditos autorais.” Bem, Odimar Feitosa (o provocador), acatei seu pedido, não vai ser exatamente o que você sugeriu. Mas esta será minha forma de protestar – com informação. Dedico, aliás, este post a você – espero que goste (se não gostar, PROTESTE) [risos].
Vocês já imaginaram que a cozinha pode servir como instrumento de luta “política”?
Bom se não, tenho de anunciar que o coletivo Rampenplan – composto por ativistas alemães deram os primeiros passos nesta questão, quando passaram a oferecer comida para as multidões que participam de manifestações pela Europa. E eles são comandados por um chef já bastante conhecido da mídia, Wam Kat.


No panteão da culinária internacional Wam Kat é conhecido como cozinheiro dos protestos/cozinheiro das multidões. Nascido na Holanda, graças aos pais pôde viver a experiência das comunidades hippies dos anos 1970 e muito cedo se aproximou do universo dos ambientalistas e do ativismo político. Das grandes manifestações contra a energia nuclear nos anos 1980 aos campos de refugiados nos Bálcãs até as multidões reunidas para expressar o dissenso durante o G8, a sua “cozinha móvel vegetariana” segue os ativistas políticos desde 1981.
Para conhecermos melhor as ações do mentor do coletivo Rampenplan, Wam Kat, segue a tradução de uma entrevista que foi originalmente publicada pelo jornal italiano de esquerda Il Manifesto Clique aqui para ler o texto original.

Quando se iniciou a sua aventura como cozinheiro de grandes eventos?

No início dos anos 1980, durante uma grande manifestação contra a bomba atômica na Holanda. Três semanas antes, pensávamos sobre onde faríamos as barricadas e de onde viriam os ônibus. Naquele tempo todos ainda comiam nas redes de fast food porque viviam em grandes cidades. A alimentação alternativa ou biológica era algo que dizia respeito a um grupo de idiotas que vinham do campo e ninguém tinha ideia de como matar a fome de 15 mil pessoas. Decidimos, então, cozinhar e fazer esse trabalho de graça, e as pessoas nos dariam o que achassem justo. Pensaram que fôssemos malucos, mas nos confiaram a tarefa. Acabamos nos lançando na empreitada e hoje, passados 25 anos, posso dizer que preparamos uma gororoba intragável, mas o pessoal gostou e conseguimos, inclusive, pagar os agricultores de quem tínhamos comprado fiado os ingredientes. Depois, visto que já tínhamos a expertise, nos chamaram da Alemanha para cuidar da comida durante uma enorme manifestação. E foi assim que tudo começou.


Como vocês se estruturavam?

A coisa cresceu rapidamente, compramos picapes e equipamentos e assim se iniciou a experiência do Coletivo Rampenplan, palavra que significa “planejamento desastroso”.  A nossa ideia era que os maiores desastres são provocados pelo homem, portanto tínhamos de bloquear os projetos que os originavam, como instalações químicas ou nucleares. Estávamos saindo da universidade e ainda não tínhamos feito nada de prático nas nossas vidas. O coletivo ficou muito conhecido na Europa, no âmbito do movimento pacifista.



Já participou de ações políticas na Itália?

Sim, durante a reunião do G8, em Gênova [2001], e também antes, nos anos 1980, estive em contato com a Lega Ambiente em Milão para falar sobre chuvas ácidas.

O mundo do ativismo político que inclui também muitos jovens, squatters...

Sim, frequentemente cozinhamos entre os sem-teto e a polícia. Às vezes estamos tão no meio que eu alerto a polícia, dizendo que estamos cozinhando e que temos panelas de até 300 litros: o óleo fervente em meio aos jatos d’água usados para dispersar a multidão pode ser muito perigoso. Então perguntamos se devemos cozinhar antes ou depois, ou se devemos parar e levar tudo embora, mas deixamos claro que demora mais de uma hora para podermos transportar o óleo...

Que receitas vocês preparam nessas situações?



As receitas são muito simples. Meus pais eram artistas e nos anos 1950 não se fazia dinheiro com arte. Eles construíram uma casa junto com outros setenta artistas e viviam do que sobrava no fim da feira, e geralmente não era carne. Quando saí da universidade, queria entender melhor alguns mecanismos e trabalhei durante dois anos em uma fábrica processadora de carne. Mesmo já sendo vegetariano, lá encontrei ainda mais motivação para continuar sendo. Depois, viajando pelo mundo, vi tanta gente passando fome e analisei as implicações do consumo de carne em relação à destruição dos alimentos. Nós cozinhamos somente receitas vegetarianas ou veganas, mas tentamos escolher aquelas que contemplem também as necessidades das pessoas que normalmente comem carne. Além disso, durante as manifestações, as pessoas não querem comer pratos particularmente “exóticos”. Elas preferem a comida que a vovó preparava. Quando chegam os jatos d’água, ou há tempo para uma pausa das barricadas, você quer um lugar onde possa encontrar um paizão ou uma mãezona que cuide de você, e é bom que tenha também uma comida gostosa. O engraçado é que na Alemanha podemos preparar uma simples sopa de batatas e o pessoal adora.

Vi que você tem uma conta no Twitter. Que importância você acha que a web e a tecnologia em geral têm nesse momento?

Escrevi a minha tese no fim dos anos 1970. Os computadores pessoais praticamente não existiam, mas eu acreditava que, em algum momento, eles se tornariam um modo de controlar as pessoas através de uma rede de  conexões, um pouco como o Grande Irmão, então eu era fortemente contra. Contudo, ainda antes do advento da web, era possível utilizar um sistema de correio eletrônico através da rede da universidade e eu comecei a me comunicar com pessoas em toda a Europa. Quando estive na Bósnia, era impossível telefonar para fora do país. Criamos uma rede de computadores chamada Zamir, que significa “pela paz”, e formamos assim o primeiro sistema de conexão em uma zona de guerra. Zamir é, ainda hoje, o segundo maior provedor da Croácia. Depois dessas experiências eu obviamente mudei a minha visão sobre o assunto: o princípio é “engorda o monstro até ele explodir!”, porque todas as informações podem ser filtradas, mas é necessário que alguém o faça, e esse é um trabalho gigantesco.


Você vive em uma pequena vila nos arredores de Berlim. Acredita que somente as pequenas comunidades poderão sobreviver?

O nosso mundo, assim como nós o temos vivido nas últimas décadas, está entrando em colapso. O estilo de vida é insustentável e eu me pergunto quem vai pagar a minha aposentadoria. A resposta está nos grupos de pessoas autossustentáveis: em qualquer lugar é possível produzir alimentos suficientes para sobreviver, não é necessário comer banana ou outras comidas trazidas do outro lado do planeta. Não haverá mais combustível para transportar todos aqueles produtos para o supermercado. A coisa mais incrível é que podemos produzir alimentos suficientes para todos, mas estamos subutilizando nosso território para produzir coisas das quais não precisamos, enquanto temos de importar o resto. Isso significa que somente as pequenas comunidades poderão sobreviver, e não as pessoas sozinhas.

As grandes metrópoles podem de alguma forma reproduzir esse modelo?

Claro, se começarem a cooperar com o campo. Durante o cerco a Sarajevo, por exemplo, nada podia entrar na cidade, por isso a comida era produzida no espaço urbano. Passamos vinte toneladas de sementes debaixo do nariz dos sérvios e a população começou a cultivá-las. Para onde você olhasse, veria pés de tomate ou de abobrinha. Inclusive perto das trincheiras onde ficavam os soldados. É essa a atitude que os habitantes das grandes metrópoles deveriam retomar. As flores são lindas nos parques, mas as verduras também têm o seu apelo! É necessária uma alternativa ao hambúrguer, uma fórmula para ativar uma cooperação entre os grandes centros urbanos e o campo. Para cidades como Turim, Roma ou Milão é muito difícil encontrar soluções para esses problemas. Mas se começarem agora, talvez daqui a vinte anos os primeiros resultados possam ser vistos. Depois de mais de trinta anos de batalha, finalmente as pessoas começam a dizer que talvez esses (ou seja, nós) não sejam só uns idiotas gritando no deserto... Não é preciso que aconteça uma guerra, em qualquer lugar é possível chegar a esse modo de pensar. E não dá pra viver só de hambúrguer.*

È inspirador o que a criatividade humana pode fazer. Quando li esta entrevista fiquei ainda mais admirado com o poder que a comida tem. Sai procurando outras matérias sobre o chef das multidões e encontrei coisas muito bacanas. Wam Kat até escreveu um livro de receitas pra melhorar o mundo (o título em  alemão “24 Rezepte zur kulinarischen Weltverbesserung” (24 recitas de culinária pra melhorar o mundo).

Wam com seu livro de receitas


Vai que de repente alguém no  Brasil se inspira nessa ação e, lá estará a cozinha ajudando na luta pela transformação, pela melhoria, por um  país mais justo e civilizado. Abaixo segue algumas receitas retiradas da página oficial de Wan Kat – e ainda resolvi colocar algumas outras receitas veganas que podem servir de inspiração pra vocês – vai que vocês resolvem colocar uma banquinha pra distribuir comida na rua... e se você se interessou pelo trabalho do chef Wam dá uma olhadinha no site deleClique aqui para ver.


Receitas do Chef Wam Kat
Tofu Ice-Cream (Sorvete de Tofu)


150g de tofu
1/2 xícara de açúcar
uma pitada de sal
fruta, baunilha ou qualquer outra coisa para um sabor especial / aroma

Milk Ice-Cream (Sorvete de leite)
Com a mesma receita do sorvete de tofu acrescente
1/4 de litro de leite de arroz, leite de aveia ou leite de vaca
2 gemas de ovo

Ou Vegano:
2 colheres de sopa de lecitina de soja em pó - para o resto, consulte tofu sorvete

Preparo Tofu Ice-Cream: Coloque todos os ingredientes em uma tigela e misture bem com um misturador de mão ou um processador de alimentos. Quando se tem uma consistência uniforme, cubra a tigela e leve ao congelador ou freezer.  Após uma hora retire do congelador e bata mais uns cinco minutos. Leve de novo ao congelador com a tigela coberta e, novamente, depois de duas horas e três horas bata a mistura por mais cinco minutos. Em seguida, deixar com a mistura mais homogênea levar ao congelador ou  freezer  9repetir este processo mais uma vez. E depois deixar no freezer ate a hora de servir(Isso significa que você pode fazer o sorvete na noite anterior pra servi-lo no outro dia.) Uma vez que esta receita não contém gordura, tanto quanto o sorvete comercial, ele precisa ser retirado do freezer meia hora antes de servir, caso contrário é muito difícil para comer. Preparo do sorvete de leite ou vegano: Se você fizer o sorvete com leite não lácteos (tais como arroz, aveia ou leite de soja) em vez de tofu, você pode misturar em um par de colheres de sopa de lecitina de soja para torná-lo agradável e cremoso.

Se ele não for vegano e você quiser usar creme de leite ou leite de vaca, então você pode usar a gema de ovo como um agente de ligação. Neste caso, uma vez que é tudo misturado, aquecer esta mistura suavemente. Não levá-lo à fervura (a gema de ovo pode talhar e separar do leite). Apenas aquecê-lo até o ponto onde é muito quente para colocar a mão- a esta temperatura a gema de ovo se liga muito bem com o líquido. Seja qual for ingredientes que você está usando, o princípio fundamental é o mesmo. Agite a mistura vigorosamente e regularmente no início, caso contrário, você acaba comendo cristais de gelo em vez de sorvete. A mistura básica de sorvete pode facilmente ser aromatizada de forma natural com purê de frutas ou baunilha. Chá verde em pó  também da muito gosto ao sorvete. No entanto, o chá tem seu próprio sabor um pouco amargo e você precisa ter cuidado com a quantidade que você usa, e adicionar um pouco de adoçante extra também. Divirta-se fazendo novos sabores.

RECEITAS VEGANAS


Sopa de legumes
• 1 batata em cubos
• 1 tomate picado
• 2 raminhos de brócolis
• meia cebola picada
• 2 dentes de alho amassados
• 1 talo de cebolinha
• sal, curry e azeite a gosto
• opcional: arroz a gosto

Preparo> Coloque numa panela, cubra com água e deixe cozinhar por 20 minutos, aproximadamente. É isso, mais simples impossível! Sopa para dois, sirva com torrada.

Pão-sem-queijo da Vanessa Vegan

Ingredientes:
• 3 batatas em purê;
• 300 g. de polvilho azedo;
• 1/2 copo de óleo;
• 1/2 copo de água morna;
• 1 colher de sal.

Preparo: Misturar tudo e fazer pequenas bolinhas. Dispor as bolinhas na fôrma de modo a não grudarem umas nas outras. Assar em forno médio por aproximadamente 10 minutos; não precisa untar a fôrma.

Bolinhos Veganos

Para fazer esses bolinhos fritos ou assados, você pode usar:
• 1 batata e 1 cenoura cozidas; ou
• 1 xícara de brócolis picadinho ou moído no liquidificador; ou
• 1 xícara de massa de soja (okara), aquele resíduo que fica na peneira quando fazemos o leite de soja com o grão, ou ainda arroz ou feijão cozido e amassado.
Temperos:
• 1 cebola picadinha, alho moído a gosto, salsinha picadinha, pimenta-do-reino em pó, cominho, sal a gosto.
 • você vai precisar também de meia xícara de farinha de trigo para dar liga. Pode usar farinha de mandioca também.

Preparo- Basta misturar os ingredientes, dar o formato desejado - nuggets ou croquetes - e fritar ou levar para assar.

Estrogonofe vegano 

Ingredientes:
• 1/2 litro de molho de tomates fino
• 2 xícaras de proteína de soja hidratada e escorrida ou bife de glúten cortado em tirinhas
• 1 xícara de cogumelos champinhon fatiados em lâminas
• 1 xícara de leite de coco ou aveia, bem forte
• 1 cebola picadinha
• tempero: pimenta-do-reino a gosto
• 1 xícara de conhaque (opcional)

Preparo - Frite a cebola picadinha no óleo, juntando a proteína de soja ou glúten até dourar bem. Se desejar, flambe a proteína ou glúten: regue a pvt com conhaque, vire rapidamente a panela um pouco de lado para pegar fogo - a chama vai durar uns instantes, suficiente para dar cor e aroma à pvt. Outra opção: assar a pvt hidratada e escorrida e cortada ao meio por 5 minutos, fica muito bom! Depois de pronta a "carne", junte o molho de tomates já encorpado e os cogumelos. Verifique o sal e adicione pimenta-do-reino a gosto. Adicione o leite de coco ou de aveia e pronto! Sirva com arroz integral, batatas palito assadas e salada verde crua.

Pavê de chocolate vegano

Ingredientes:
• Bolacha maisena 100% vegetal 1 pacote (Marilan)
• Leite de soja 1 litro
• Cacau em Pó 2 colh.
• Açúcar demerara 1 ½ xíc.
• Maisena 5 colh. Sopa rasas
• Suco (sua preferência) 250 ml
• Chocolate meio amargo 1 xíc.
• Opcionais: 1 colh. sopa de Nescafé
• 1 cálice de rum ou licor de sua preferência

Dissolva maisena e cacau em um pouco do leite de soja. Numa panela coloque, nessa ordem:
• restante do leite
• chocolate picado
• açúcar
• maisena e cacau

Preparo: Em fogo baixo, mexa até ficar cremoso. Deixe esfriar um pouco. Em forma refratária arrume camadas de creme e bolacha embebida no suco. Enfeite com lasquinhas de chocolate meio amargo ou castanha de caju.


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