terça-feira, 2 de julho de 2013

Brindes no País das Maravílhas

Tem vezes que a gente precisa sair da realidade. Nestes momentos ter uma válvula de escape é muito importante. As mídias especializadas em saúde e qualidade de vida nos trazem atualmente informações que não são lá muito animadoras como, por exemplo, afirmam que as relações pessoais estão cada vez mais “informatizadas” – o que seria um prejuízo imenso pra saúde; e, que a depressão já é um mal do século.
Pensando nestes assuntos e na minha atual condição (minha crise renal ainda me atormentando) tenho ido ao hospital e  vejo a quantidade de gente precisando de ajuda, de uma palavra. Nessas horas é melhor não levar a vida tão a serio, ter paciência e não desistir. Mas, pensando bem, dar uma de louco pode ser uma solução – pra ver se o tempo muda e a vida fica melhor.
Pra isso, resolvi surtar um pouco (risos – como se eu não fizesse isso bastante), e tentar escrever algo igualmente doido (Eu amo ser louco), porém lúcido e, que isso fosse expresso, de alguma forma, por alguma veia da possibilidade que a gastronomia me permite.
Então, pensei em dar uma relida em O Elogio da Loucura, de Erasmo de Roterdã, publicado em 1511, para ver o que eu poderia extrair.

O ensaio O Elogio da Loucura é repleto de alusões clássicas, escritas no estilo típico dos humanistas do Renascimento. A Loucura se compara a um dos deuses, filha de Plutão e Frescura, educada pela Inebriação e Ignorância, cujos companheiros fiéis incluem Philautia (amor-próprio), Kolakia (elogios), Lethe (esquecimento), Misoponia (preguiça), Hedone (prazer), Anoia (Loucura), Tryphe (falta de vontade), Komos (destempero) e Eegretos Hypnos (sono morto). O Elogio da Loucura conheceu um enorme êxito popular, para surpresa de Erasmo e, também, para seu desgosto. O Papa Leão X achou a obra divertida. Antes da morte de Erasmo já havia sido traduzida para o francês e alemão. Uma edição de 1511 foi ilustrada com gravuras em madeira de Hans Holbein, que se tornaram as ilustrações da obra mais difundidas. A obra influenciou a essência da retórica durante o século XVI, e a arte da adoxografia (o elogio imerecido de pessoas ou coisas sem valor, vulgares) e se converteu em um exercício popular entre os estudantes isabelinos.

O fato é que eu não fiquei inspirado. Daí, fui buscar uma coisa mais divertida, menos densa – na realidade estava em busca de um livro com conteúdo meio louco, mas que a maioria das pessoas tivesse noção da sua história. E achei! E vou começar a divagar por ele.
Os diálogos apresentados abaixo estão presentes no livro mais citado da literatura universal depois da Bíblia (pra mim um dos melhores, inclusive), “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll , onde as relações sociais e a força de vontade fazem toda a diferença ao longo do texto. Muitos o compreendem como um conto de fadas moderninho, surreal, onde a imaginação fértil do autor é bem explorada nas personagens. Eu acho a obra uma verdadeira obra de filosofia, escrita para crianças e também para adultos – e que conseguiu materializar o fascínio pelo o impossível numa realidade que pode sim ser vivida por qualquer um, a qualquer tempo. Basta ficar a tento e abrir bem os olhos.
  


"Mas eu não quero me encontrar com gente louca", Observou Alice.
" Você não pode evitar isso", replicou o gato.
"Todos nós aqui somos loucos. Eu sou louco, você é louca".
"Como você sabe que eu sou louca?" indagou Alice.
"Deve ser", disse o gato, "Ou não estaria aqui".

Alice: Chapeleiro, você me acha louca?
Chapeleiro: Louca, louquinha ! Mas vou te contar um segredo: as melhores pessoas são .

Suponho que saiba o que 'isso' significa. — disse o Camundongo.
Sei muito bem o que 'isso' significa quando eu acho uma coisa. — disse o Pato.

Alice retrucou, bastante timidamente: "Eu - eu não sei muito bem, Senhora, no presente momento - pelo menos eu sei quem eu era quando levantei esta manhã, mas acho que tenho mudado muitas vezes desde então."

Deixe-me pensar: eu era a mesma quando me levantei essa manhã? Tenho uma ligeira lembrança de que me senti um bocadinho diferente. Mas, se não sou a mesma, a próxima pergunta é: Afinal de contas quem eu sou? Ah, este é o grande enigma!
  
Não bastasse o livro oportunizar a entrada numa realidade paralela, cheia de exoticidade, outro ponto nessa loucura escrita é que existem ali muitas referencias gastronômicas. E isso me atrai ainda mais. Relembremos alguns desses fatos:


 A (tadinha) da Alice, tão logo caiu no poço, passou por vidro de geleia de laranja vazio; e, quando chegou ao chão, encontrou sobre a mesa uma garrafa com rótulo “Beba-me”. Bebeu. O líquido tinha um sabor que de acordo com ela, era “uma mistura de torta de cereja, creme de leite, suco de abacaxi, peru assado, doce puxa-puxa e torradas quentes com manteiga”. Acontece que a tal bebida foi um problema: mesmo saborosa, a fez ir encolhendo até ficar “com uns vinte e cinco centímetros”.


Junto à garrafa, na mesma mesa, havia um bolo com a indicação “Coma-me”. Comeu. E aconteceu o contrário, foi crescendo, crescendo, tanto “que quase perdeu os pés de vista”. A conclusão, para ela, era simples: “Sei que alguma coisa interessante vai acontecer cada vez que eu beber ou comer qualquer coisa”. .


E assim fez, degustando até “seixos que se transformavam em bolos espalhados pelo chão” e “cogumelo que tinha uma lagarta sentada”


Em outra passagem, quando Alice vai à casa da Duquesa, vê a cozinha “cheia de fumaça de um lado a outro. A cozinheira estava inclinada sobre o fogão, mexendo um caldeirão enorme que parecia cheio de sopa”.
Alice pensou: “Tem pimenta demais naquela sopa” porque “pelo menos no ar havia muita pimenta”. Isso fazia com que todos espirrassem sem parar, “menos a cozinheira e um gato enorme, sentado junto ao forno”. Após o que vai dizendo frases filosóficas, como “A pimenta torna as pessoas belicosas; vinagre as torna acres, camomila as torna amargas e o açúcar e coisas parecidas tornam as crianças doces e suaves”; concluindo “Gostaria que as pessoas grandes soubessem disso: não seriam tão sovinas com doces e coisas assim”.
Outra sopa aparece num instigante diálogo, que será entendido de um jeito por crianças; e de outro, por adultos.
Rainha: – “Você já viu a Falsa Tartaruga?
Alice: – “Não. Nem sei o que é uma Falsa Tartaruga”
Rainha: – “É aquilo de que se faz a falsa sopa de tartaruga”.
Um diálogo surrealista, até porque a sopa, na realidade, era feita com carne de vitela: “Que bela sopa, de osso ou aveia, a ferver na panela cheia”!
Depois, “a Rainha de Copas fez umas tortas. “E, certo dia de verão, o Valete de Copas roubou as tortas”. Então organizaram um tribunal para julgar o Valete. O juiz era o próprio Rei de Copas. “No meio do tribunal havia uma mesa, com uma grande travessa cheia de tortas”. E tão apetitosas eram que Alice, morrendo de fome, pensou: “Quem me dera que esse julgamento acabasse logo e eles distribuíssem o lanche”. Faltando lembrar o chá na casa do Chapeleiro Maluco, com seus convidados – a Lebre de Março e um sonolento Leirão (tipo de roedor europeu) – que tomavam chá “diante da casa, sob uma árvore”. Havia, naquele lugar, “uma mesa posta – com chá, torradas e a melhor manteiga que tinha”. E por aí vai.
Agora, caros amigos, peço-vos que quando tiverem um tempinho, leiam o livro. Releiam-no se for o caso, mas abra os olhos para o que está nas entrelinhas dos diálogos construídos por Lewis Carroll. Ou se preferir faça como eu: - “Dê uma de Alice”. Saia um pouco da sua realidade, deixe o impossível acontecer.
Para ajudar, uns delírios etílicos, que viram sem fotos dos mesmos – só para que caiam na brincadeira...


O Coelho Branco
ingredientes

1 parte de licor de baunilha (Schnapps)
2 partes de creme de leite

Preparo: Adicione o licor de um copo alto e despeje o creme de leite.



O gato de Cheshire
ingredientes


1 parte de rum temperado (Captain Morgan ou Sailor Jerry)
1 parte de pêssego Schnapps
1 parte de suco de laranja

Preparo: 

Misture todos os ingredientes em um copo com gelo.



O Chapeleiro Maluco
ingredientes


1 parte de vodka
1 parte de licor de pêssego Schnapps
1 parte de limonada
1 parte de coca-cola

Preparo: misture no shaker a vodka, o licor, a limonada, em seguida, despeje sobre o gelo e adicione e complete com a coca cola.



Alice (não alcoólica)
ingredientes


1 parte de grenadine
1 parte de suco de laranja
2 partes de suco de abacaxi
4 partes de creme

Preparo: Misture todos os ingredientes em um copo.

A Rainha de Copas
ingredientes


1 parte de licor amaretto amêndoa
1 parte de licor de melão Midori
2 partes Blue Curacao licor
2 partes de suco de cranberry

Preparo: Combine o Midori com o amaretto em um copo, em seguida, adicionar o Curaçao azul e suco de cranberry.

Alice Através do Espelho
ingredientes


2 partes de absinto
1 parte de vodka de baunilha
1 parte de água
cubo de açúcar


Preparo: Combine o absinto e vodka em um copo de absinto. Depositar uma colher de absinto e cubo de açúcar no topo do vidro e lentamente verter água sobre o açúcar, dissolvendo-o no vidro. Mexa delicadamente e beber com cuidado!

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