domingo, 20 de outubro de 2024

Kaju Katli, uma doce criação da cozinha hindu

 

Quem me conhece mais intimamente sabe bem da minha gula por frutos secos. Amo todos os tipos de castanhas, e confesso não ter maturidade para parar de comê-las. São tantas, e com sabores tão variados: castanhas de caju, amêndoas, nozes, pistaches, avelãs, castanhas do Pará, castanhas portuguesas, macadâmias, pinoles, noz pecã, castanha de baru, castanha sapucaia, chichá (ou xixá), amendoim, coco babaçu ...  cada uma com a sua peculiaridade de formato e identidade de gosto.

Morando no Ceará, tenho algumas dessas castanhas com facilidade, especialmente as castanhas de caju, que podem ser encontradas mais ou menos torradas, caramelizadas com gergelim, ou sem ele... e, eu amo o gosto da castanha de caju torradinha que a gente assava nos cacos de barro, lá em casa, quando eu era criança e morava na Serra da Ibiapaba, no norte do Ceará. Depois, fui sofisticando com gosto com amêndoas, foi quando me apaixonei definitivamente por marzipan - aliás, foi sobre ele a primeira postagem de criação desse blog, veja AQUI.

Ao longo da adolescência fui apresentando a tantas outras castanhas e o mundo ficou mais feliz com elas. Em 2017, eu publiquei dois capítulos de livro na Argentina – um sobre Gastrodiplomacia, o capítulo 3; e o capítulo 8, sobre Geofoods – na obra “Destinos com sal y pimienta”, coordenado por Juana Alejandrina Norrild, foi uma realização do Centro de Investigaciones y Estudios Turisticos - CIET, uma importante instituição dedicada as pesquisas cientificas em turismo da argentina e da América Latina (se quiser conferir o conteúdo, o livro pode ser baixado gratuitamente AQUI).

Você deve estar se perguntando: por que ele está falando sobre isso? Porque, logo após eu ter publicado sobre Geofoods que, resumidamente, são comidas que representam visualmente os lugares onde elas foram criadas (sugiro a leitura do capítulo 8 do livro para que entenda melhor o significado de uma Geofood), eu fui fazer testes para o que eu poderia executar como Geofood que representasse Fortaleza, a capital do Ceará.

Naquele instante, eu estava comum e caju nas mãos e resolvi preparar um doce com elas: fiquei pensando numa técnica fácil, que fosse também rápida no preparo. Depois, escolhi aromatizantes que fossem de produção local e tivessem fácil acesso. E, dentre as possibilidades, usei como especiarias: a pimenta do reino, folhas frescas de manjericão e amburana – essa última, também conhecida como cumaru do Ceará – e, finalmente fui testar.

De uma receita base, que foi dividida em porções, fui testando a quantidade e variando a mistura de especiarias em cada porção-teste, et voilá!  Nascia assim meu doce de castanha de caju, que eu ainda não batizei com um nome até hoje. Os testes com as especiarias escolhidas ficaram bons – para mim, pelo menos (risos).

Acontece muito tempo depois, enquanto eu me dedicava aos estudos sobre a cozinha indiana, me surpreendi quando me deparei com um doce que lá eles fazem exatamente como o que desenvolvi aqui, sendo as especiarias e o uso da manteiga ghee foram as únicas diferenças entre ambas.

Não tenho ancestrais hindus e àquela época tinha pouco conhecimento sobre a cozinha dos indianos, mas ocorre que, na minha cabeça, de alguma maneira, se manifestou a ideia e o método dessa preparação... Talvez, fosse uma inspiração do senhor Ganesha, deus hindu da abundância, da fortuna, do intelecto e da sabedoria, para quem eu vivia recitando um mantra que eu aprendi com o pouco de sânscrito que conheço, e na intenção sempre de ter boas intuições e sabedoria (o que sempre funciona comigo, se você quiser ouvir, clica AQUI). Mas, ainda poderia ser uma intuição emanada pela deusa da comida e da cozinha indiana, Annapurna, um avatar da deusa-mãe hindu, Parvati, que é mãe de Ganesha. Seja como for, a receita nasceu, e é sobre a versão indiana dela o post de hoje.

  
Ganesha
Annapurna

Para começo de história é preciso falar da existência do caju que, como menciona Vinicius de Moraes em seu “Soneto ao caju”, de 1947, é produto 100% nacional: originário do litoral brasileiro, especialmente no Nordeste, foi se espalhando por outras regiões sendo levado pelos indígenas. O caju é considerado um falso fruto, a sua polpa tão apreciada para o preparo de suco, mel, doce, passas, rapadura, aguardente e cajuína, é na verdade uma inflorescência. Isso porque, tecnicamente, o fruto verdadeiro é a castanha, pois foi ele que nasceu do ovário da flor. A "carne" é chamada de pedúnculo.

Desde muito antes da colonização do Brasil, o caju já era um alimento básico das populações autóctones. Por exemplo: os índios Tremembé, no Ceará, já fermentavam o suco do caju, o mocororó, que era e é bebido na cerimônia do Torém.

Principais estados produtores de caju e de castanhas no Brasil desde 2019, em amarelo escuro

Sendo um fruto nativo do Brasil, ganhou o paladar dos colonizadores e, com eles, o caju foi levado pelos portugueses do Brasil para a Ásia e África ainda no século XVI. A mais antiga descrição escrita do fruto é de André Thevet, em 1558, comparado este a um ovo de pata. Posteriormente, Maurício de Nassau protegeu os cajueiros por decreto, e fez o seu doce, em compotas, chegar às melhores mesas da Europa.

Os estados brasileiros do Ceará, Piauí e Rio Grande do Norte são os maiores produtores de caju e castanhas. Um relatório de 2023 da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), mostra que a área destinada à colheita de castanha de caju no país em 2023 foi equivalente a 428,0 mil hectares, tendo um aumento de 0,6% na comparação com o ano anterior, de 425,6 mil ha.

                        Em destaque, os poles cearenses da cajucultura.

O mesmo relatório aponta o Ceará como o principal estado produtor de castanhas de caju do Brasil, com uma produção estimada em 68,1 mil toneladas em 2023, ou 55,9% da produção nacional, uma redução de 29,3% na comparação com o ano anterior, devido à redução na produtividade em 29,8%, com leve aumento da área a ser colhida de 0,8%;  em segundo lugar, encontra-se o estado do Piauí , com 26,6 mil toneladas, representando 21,9% da produção nacional; é seguido pelo estado do Rio Grande do Norte, com 15,8 mil toneladas  em 2023, ou 13,0% da produção nacional.

O Caju (Anacardium Occidentale) foi introduzido na Índia pelos portugueses no século XVI. Ao longo dos anos, o Caju tornou-se uma cultura com alto valor econômico e alcançou o status de exportação – mercadoria orientada, ganhando considerável cambio para o país. A Índia exporta as castanhas de caju para mais de 60 países. Desde então o caju e suas castanhas se tornaram presentes na cozinha hindu, o que possibilitou a existência do Kaju Katli, o doce indiano que será apresentado a partir de agora.

Como já falei anteriormente, fiquei surpreso quando descobri um doce indiano preparado de acordo com a ideia que veio no meu pensamento. Mais surpreso ainda fiquei quando descobri que a receita do doce indiano também é uma daquelas cuja origem é disputada.


Kaju Katli é uma iguaria indiana clássica preparada com castanhas de caju, açúcar, pó de cardamomo e manteiga ghee, servida em pedaço na forma de diamante. Esta guloseima deliciosa é pode ser tipicamente revestida total ou parcialmente com Vark (também varak, Waraq ou warq; ou seja, uma fina folha de filigrana de metal puro, tipicamente prata, mas às vezes ouro, usada para decorar doces e alimentos do sul da Ásia), folhas de prata ou ouro comestíveis, representando luxo e instigando apreciação do consumidor.

                                            Folhas de prata e ouro comestíveis 

Não por acaso, o Kaju katli é um doce tradicionalmente consumido durante o festival Diwali, o festival das luzes – que simboliza a vitória do bem contra o mal –, ele configura-se como o maior e mais importante festival da Índia, mas o doce também é um presente adorável para amigos e familiares em muitas outras ocasiões.

                                       Diwali, o Festival das Luzes

Por exemplo, durante Ganesh Chaturthi, uma celebração em comemoração ao nascimento de Ganesha, kaju katli, é frequentemente feito. Além disso, açafrão ou frutas secas podem às vezes ser adicionados à sobremesa para realçar os sabores. Acredita-se na cultura indiana que comer kaju katli traz boa sorte e prosperidade para a casa de alguém.

                                             Ganesh Chaturthi 

Existem muitos doces indianos deliciosos, mas o Kaju Katli se destaca porque é muito difícil de evitar. Esta delícia, também chamada de Kaju Barfi, ( o que em português seria algo como “Neve de caju”, pois o termo barfi deriva da palavra persa e urdu (barf) para neve), encanta o paladar há gerações. Mas como ele passou das cozinhas antigas para as mesas de sobremesas modernas é um mistério cheio de segredos doces e contos tentadores.

O Kaju Katli conquistou a cena ‘mithai’ (termo hindu que significa doces e sobremesas) da Índia, mas de quem foi a ideia? A história nos oferece duas versões de como esse doce foi criado.

Quem diria que castanhas de caju, açúcar e ghee poderiam se unir para resultar em um doce que seria aclamado como um dos mithai mais versáteis!

Digo "versátil" porque não importa a ocasião — festiva ou comemorativa — você nunca pode errar com uma caixa de kaju katli se estiver na Índia. Os pedaços de paraíso em forma de diamante, às vezes decorado luxuosamente com folhas de prata ou ouro comestíveis, reinam supremos sobre a cena mithai indiana há décadas. E eles não vão sair da sua popularidade tão cedo.

Enquanto você deixa seu paladar se deleitar com a celebração de sabores que o doce traz à sua boca, você já parou para se perguntar se foi um momento "Eureka!" que levou a isso ou um incidente dramático semelhante?

Você ficará surpreso ao saber que existem duas versões, uma, no entanto, com mais popularidade do que a outra. Deixamos para você decidir o cérebro por trás do Kaju katli.

Um resultado da serendipidade

A versão menos conhecida do nascimento do Kaju katli dá crédito ao Império Maratha, o povo de um estado hindu localizado no que é hoje a Índia e Paquistão, que existiu entre 1674 e 1818, especificamente elaborado pelo chef Bhimrao enquanto este trabalhava nas cozinhas Maratha do século XVI, preparando uma tempestade de iguarias para a família real. O Chef Bhimrao estava sempre experimentando ingredientes e receitas.

O doce favorito do chef Bhimrao era o Parsi Halwa-e-Farsi, feito com amêndoas moídas e açúcar. Inspirando-se nisso, o chef criou sua receita com castanhas de caju em substituição das amêndoas.


O doce resultante foi aplaudido pelos Marathas, quem os batizou devido a sua apresentação em fatias finas (katli) feitas da massa doce resultante das castanhas de caju (kaju). Assim, o Kaju katli logo se tornou iguaria frequente na mesa real e dali encontraria seus caminhos para outros lugares e mesas em toda a Índia.

Para entender a outra versão da história do doce, viajamos para a era Mughal do século XVII.

Um símbolo de liberdade

A história conta que por volta de 1619, o Imperador Jehangir, um governante proeminente da dinastia Mughal (Mogol), capturou vários gurus e monarcas Sikh – um grupo etnorreligioso que segue o Siquismo, uma religião dármica originária do Punjab, no subcontinente indiano, no final do século XV. O termo sikh significa, em língua punjabi, "discípulo forte e tenaz". A doutrina básica do siquismo consiste na crença em um único Deus e nos ensinamentos dos Dez Gurus do siquismo, recolhidas no livro sagrado dos siques, o Guru Granth Sahib, considerado o décimo-primeiro e último Guru.

Dizem que a ortodoxia muçulmana fez o imperador perceber os Sikhs como uma ameaça potencial ao império, e os manteve cativos no forte Gwalior por longos anos. A agonia dos cativos era evidente, e suas condições de vida eram deploráveis.

Guru Hargovind, o 6º Guru Sikh, estava entre os detidos. Com suas instruções, ele ajudou a tornar os prisioneiros autossuficientes dentro do forte e melhorou a qualidade de vida de todos os presos e guardas. O Imperador Jahangir proclamou que o Guru seria libertado e que qualquer um que pudesse segurar seu manto enquanto ele saísse seria libertado. Guru Hargovind secretamente ordenou que os 52 monarcas fizessem um manto longo o suficiente para ser usado por todos na prisão.

No Diwali, todos os presos foram libertados enquanto ainda usavam seus longos mantos. Este dia de independência é conhecido como Bandhi Chor Diwas pelos Sikhs em todo o mundo. Como um sinal de respeito ao guru sikh, o chef real de Jahangir cozinhou o kaju barfi pela primeira vez no dia da emancipação. O kaju barfi era feito com leite engrossado, também chamado de rabri, castanhas de caju trituradas e amêndoas.

Para quem não sabe, o rabri (IAST: Rabaḍī) (Hindi: रबड़ी) pode ser compreendido como um ‘leite condensado indiano’. É uma preparação doce à base de leite condensado, originário do subcontinente indiano, feito fervendo o leite em fogo baixo por um longo tempo até que ele se torne denso e mude sua cor para esbranquiçado ou amarelo claro. Açúcar mascavo, especiarias e nozes são adicionados a ele para dar sabor. É resfriado e servido como sobremesa. Rabri é o ingrediente principal em várias sobremesas indiana, como rasabali, chhena kheeri e khira sagara.

As pessoas acham que a maneira como o Kaju Katli ou Kaju barfi é feito, especialmente o uso de castanhas de caju, pode ter sido inspirado nos estilos de culinária persa e Mughal, especialmente pelo fato de historiadores e pesquisadores darem as suas opiniões que comparar esse doce com a “Halva”, uma sobremesa muito presente no Oriente Médio. E, é preciso ser dito, que os Mughals trouxeram este prato para a Índia quando assumiram o poder naqueles domínios.

Como as guloseimas indianas estão se tornando mais populares fora da Índia, muitas empresas de confeitaria agora fazem Kaju Katli para venda. É fácil encontrá-lo em lojas de doces por toda a Índia, algumas até enviam o doce para outros países com grandes populações indianas.

Ao traçar sobre essas duas histórias principais sobre a origem desse doce imperdível, encontrei na cultura daquele povo três belas outras histórias sobre o Kaju katli que, embora menos conhecidas, merecem destaque. São elas:

O Conto do Marajá Generoso

Dentre as muitas histórias da cultura indiana existe uma tocante sobre um marajá gentil que amava muito seu povo. Ela nos conta que, durante uma seca muito ruim, quando o reino estava no meio da comida e da desesperança, o marajá gentil tentou animar seu povo. Ele sabia que os doces tradicionais do país eram frequentemente caros demais para os pobres, então ele reuniu seus chefs reais e disse a eles para fazerem um doce que todos pudessem aproveitar.

Os cozinheiros inteligentes foram inspirados pelas simples castanhas de caju, que cresciam em grandes quantidades nos pomares do reino, e fizeram o Kaju Katli, um doce único.

Muitas pessoas ouviram sobre o quão gentil o marajá era, e logo, moradores de países próximos vieram provar o que ele havia dado ao seu povo como um presente. Cada mordida do perfeitamente doce Kaju Katli fez as pessoas se sentirem melhor e lhes deu esperança novamente. Embora o marajá fosse gentil, sua memória vive na beleza atemporal do Kaju Katli, um doce lembrete de quão poderosa a gentileza e a doação podem ser.

O poeta apaixonado e sua doce musa

Nas páginas da história, há uma estória tocante sobre o amor que não é correspondido e o poder da criação que dura para sempre.

Dizem que havia um artista talentoso que vivia na corte de um nobre rei e ansiava pela linda filha do rei. Apesar de seus poemas apaixonados e votos sinceros, a princesa não se importava com seu amor; seu coração já estava voltado para outra pessoa.

Mesmo tendo sido rejeitado, o poeta voltou-se para sua arte em busca de conforto, despejando seu amor e desejo em sua escrita. Ele teve uma explosão repentina de inspiração em um dia fatídico enquanto estava sentado sob um cajueiro. Ele escreveu uma canção tão linda que fez até os deuses chorar.

Como os deuses estavam se sentindo bem com aquilo, suas lágrimas caíram sobre as palavras do poeta e as transformaram em Kaju Katli, um doce deleite. O amor do poeta e a magia do que ele escreveu fizeram o coração da princesa se iluminar, e ela finalmente entendeu o quanto ele a amava. Ela disse sim para se casar com o poeta porque gostava mais de sua alma lírica agora. Juntos, eles desfrutaram do doce néctar de seu amor em cada mordida de Kaju Katli.

A descoberta fortuita do comerciante

Nos movimentados bazares da Índia antiga, onde as pessoas compravam e vendiam especiarias, sedas e tesouros de lugares distantes, havia um simples comerciante de caju que teve a sorte mudada num certo dia.

Enquanto ele atravessava o campo vendendo seus produtos para compradores ansiosos, ele se deparou com uma pequena cidade onde o cheiro das castanhas de caju torradas enchia o ar. O cheiro deixou o comerciante curioso, então ele seguiu seu nariz até uma cozinha simples e viu algo que mudaria sua vida para sempre.

Lá, diante do vapor perfumado, um grupo de camponeses empreendedores estava fazendo o Kaju Katli, um doce diferente de tudo que o comerciante já tinha visto. O comerciante inteligente viu uma oportunidade de ganhar dinheiro e fez um acordo com os moradores locais.

Ele comprou a valiosa receita e partiu para levar o Kaju Katli aos mercados em todo o mundo. Com seu sabor irresistível e raízes exóticas, o Kaju Katli rapidamente se tornou um doce popular entre os clientes do comerciante. Isso o tornou um empresário de sucesso e espalhou a palavra sobre a guloseima de caju por todo o país.

Essas são versões bonitas e que, perfeitamente, poderiam ter acontecido depois do episódio inicial até a popularização do doce. Enquanto Kaju Katli reina supremo no reino dos doces indianos, o mundo está transbordando com uma variedade de confeitos deliciosos que têm uma semelhança impressionante com essa adorada guloseima. Abaixo cito alguns exemplos tentadores:

Marzipan (Alemanha): Marzipan é uma pasta de amêndoa doce famosa na culinária alemã. Tem textura e ingredientes semelhantes ao Kaju Katli. As pessoas costumam cortá-lo em formas complicadas e comê-lo sozinho ou usá-lo para decorar bolos e outros produtos assados.

Calisson (França): Calisson é um doce francês tradicional da área ensolarada da Provença. É feito de amêndoas moídas, frutas cristalizadas e açúcar de confeiteiro. Tem gosto de amêndoas e textura mastigável, como Kaju Katli, mas com um pouco de elegância francesa.

Halva (Oriente Médio): Halva é um doce popular no Oriente Médio, possivelmente ele foi a inspiração para o doce indicano. A Halva pode ser vista em muitas formas, mas os ingredientes principais geralmente são tahine (pasta de gergelim), açúcar e nozes. Pessoas que gostam de doces vão adorar essa guloseima porque ela tem uma textura densa e um sabor de nozes que lembra Kaju Katli.

Nesse ponto, quando paro e analiso a minha criação e todas essas histórias do doce indiano, percebo como uma rica tapeçaria de conhecimento e culturas podem ser observadas pela tradição e habilidades culinárias com o uso de ingredientes simples.

Por meio de sua história misteriosa em cozinhas antigas e sua fama duradoura nas mesas de sobremesas hoje, o Kaju Katli continua a encantar corações e papilas gustativas. E, embora não se tenha certeza sobre qual versão de origem ele de fato pertença, é inegável que o Kaju katli é delicioso e atrai pessoas de todo o mundo.

Para os curiosos, deixo abaixo algumas referências que tratam do doce e falam mais sobre a cozinha indiana. E, como de costume, segue abaixo a receita do doce para você fazer em casa. Se fizer, me conta...

 

Kaju Katli

1 xícara ( ou 160 gramas) de castanhas de caju crua e sem sal, em temperatura ambiente

½ xícara (ou 100 gramas) de açúcar

5 colheres de sopa de água

1 colher de sopa de manteiga ghee ou óleo de coco (ou qualquer óleo de sabor neutro), opcional

1 colher de chá de pétalas de rosas picadas ou 1 colher de chá de água de rosas ou 8 a 9 fios de açafrão, opcional

Preparo: Moer as castanhas (pode ser em um moedor de especiarias, liquidificador ou mixer). Use castanhas que estejam em temperatura ambiente e não refrigeradas. Moa até virar uma farinha. Mas, certifique-se de não exagerar no processo de moagem, pois a gordura não deve se soltar das castanhas, lembre-se de moer em intervalos curtos. As castanhas devem estar em pó e não devem ficar pastosa – obviamente, esse pó de castanha vai ter certa umidade, mas não deve virar pasta na moagem. Isso pe fundamental. Se houver pequenos pedaços no ‘pó’ de castanha, deixe-os em paz. Ou opte por peneirar e reserve. NÃO USE PÓ DE CASTANHA DE CAJU COMPRADO, POIS ELES GERALMENTE TÊM ALGUMA ADULTERAÇÃO QUE IMPACTARÁ NO RESULTADO. Com as castanhas moídas, agora façamos o doce. Em fogo baixo, aqueça o açúcar, a água e a manteiga ghee em uma panela de fundo grosso ou antiaderente. Enquanto isso, unte um prato ou uma bandeja e reserve ou deixe papéis manteiga prontos. Quando todo o açúcar estiver dissolvido na água, adicione o pó de caju. Misture e continue mexendo a mistura sem parar em fogo baixo. A mistura começará a engrossar virando uma pasta. Cozinhe por aproximadamente 7 a 9 minutos até que toda a massa comece a se unir. Com esse resultado, tire do fogo, adicione as pétalas de rosa à mistura de caju misture bem. Quando já estiver morna o suficiente para manusear, então amasse levemente a mistura. Achate a massa e coloque-a em um prato ou bandeja untada. Depois de fria, coloque a massa entre duas folhas de papel manteiga, ou numa superfície de trabalho para abrir massas, e usando um rolo abra suavemente a massa de todos os lados até atingir uma espessura de 3 a 5 mm na massa. Remova o papel manteiga e deixe a massa aberta descansar um pouco. Quando completamente resfriada, usando uma faca afiada, corte a massa de caju dando formas de diamante (losangos). Remova delicadamente o kaju katli e está pronto pra servir. Guarde em um recipiente hermético. Você pode decorar á gosto.

Referência:

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BLADHOLM, L.. The Indian Grocery Store Demystified. Renaissance Books. 2016.

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