segunda-feira, 11 de outubro de 2010

As Jóias do Nordeste I: O Magnífico Souza Leão

Estes dias, conversando com amigos de outros Estados brasileiros chegamos a uma conclusão muito peculiar: de que o nordeste brasileiro só é visto na mídia como lugar de seca e pobreza – quando na realidade encontram-se no nordeste, jóias ainda não lapidadas, e que merecem ter seu valor explicitado.
Não estou aqui para defender os nordestinos, pois eles não precisam disso. Já ganham lutas todos os dias para sobreviver e sabem se defender das adversidades da vida como ninguém. Também não vou falar das maravilhas da natureza que o nordeste concentra, tanto no litoral como nas suas serras e sertões; nem muito menos de sua rica cultura, nem do seu poder de desenvolvimento que ajudou na construção das maiores cidades brasileiras.
Vou aproveitar este espaço para levar ao público alguns exemplos de como o nordeste pode servir como exemplo de requinte gastronômico; E para isso irei utilizar iguarias que muito gosto: os bolos nordestinos.
Iniciando os trabalhos, então, começo falando de uma verdadeira lenda da tradicional doçaria nordestina e que é considerados por muitos como o bolo mais famoso do  Brasil: O bolo Souza Leão.

Bolo Souza Leão

Antes porem devo esclarecer que a vocação do nordeste para a gastronomia, sobretudo no ramo  das sobremesas se deve ao fato de ter o nordeste brasileiro se configurado como o maior produtor de açúcar do pais, por muitos anos. O que traria uma excelência na área dos doces;
No seu livro o Açúcar, Gilberto Freyre, afirma:

“a marmelada, o caju e a goiabada tornaram-se desde os tempos coloniais, os grandes doces das casa-grandes. A banana assada ou frita com canela, uma das sobremesas mais estimadas das casas patriarcais, ao lado do mel de engenho com farinha de mandioca, com cará, com macaxeira; ao lado do sabongo [doce de coco com o mel de engenho] e do doce de coco verde e, mais tarde, do doce com queijo – combinação tão saborosamente brasileira” (FREYRE, 1987, p. 57). 
Sabe-se que as primeiras noticias a respeito desta iguaria datam dos tempos do segundo império  brasileiro, quando no ano de 1859 foi servido pela família Souza Leão — dona de vastos canaviais — ao imperador Dom Pedro II e sua mulher, a imperatriz Dona Teresa Cristina, em viagem a Pernambuco. Dizem que o casal Imperial chegou a empanturrar-se por achar o  bolo uma maravilha.
O império acabou e o ciclo do açúcar também. Mas o nordeste ainda guarda a tradição do mais aristocrático bolo nordestino, para que ele pudesse se tornar uma lenda da doçaria brasileira. O Bolo Souza Leão com quase 150 anos traz a simplicidade e um gosto marcante na sua composição á base de puba (massa de mandioca fermentada), coco, açúcar e gemas. A nobreza do  bolo na culinária deve-se a família formada por senhores de engenho dos municípios de Jaboatão, Moreno e vizinhanças.
E pra dar mais glamour a esta lenda culinaristica, diz-se a tradição obrigava o uso de pratos de porcelana ou cristal e talheres de prata para a degustação
A família Souza Leão se dividia em ramificações distribuídas em onze engenhos de Pernambuco. E com o passar dos anos cada descendente foi criando várias receitas com pequenas variações e proporção de ingredientes para o mesmo bolo. Este fato torna difícil de identificar a receita original, mesmo pro que todos os  bolos preparados ficam deliciosos.

Gilberto Freyre (1987, p. 77), confirma: “Consegui várias receitas desse manjar, mas todas se contradizem, a ponto de me fazerem duvidar da existência de um bolo Sousa Leão ortodoxo [verdadeiro]. Consegui-as quase como quem violasse segredos maçônicos”.

Contudo, acredita-se, a receita original (e a maioria de suas variações) venha da cozinha: a de dona Rita de Cássia Souza Leão Bezerra Cavalcanti, casada com o coronel Agostinho Bezerra da Silva Cavalcanti, senhor do engenho São Bartolomeu, em Muribeca. E por este mesmo motivo, alguns dizem que o Bolo Souza Leão é uma variação do Bolo São Bartolomeu, em homenagem ao engenho homônimo, criado pela mesma senhora, uma renomada quituteira do seu tempo. Os ingredientes do Bolo São Bartolomeu são quase os mesmos empregados no primeiro: massa de mandioca, leite de coco, açúcar, ovos. A diferença está no uso de especiarias como canela, erva-doce e castanha-de-caju, que não participa do legítimo Souza Leão.

Homenagem da Bunge aos bolos patrimonios


Mas a notícia que talvez revirou  Gilberto Freyre em seu túmulo, para agradecer o feito foi, que em 22 de maio de 2008 o Governador dpEstado de Pernambuco sancionou a lei N. 357/2007, que tornou o Bolo Souza Leão e o Bolo de Rolo do Recife como dois elementos integrantes do patrimônio cultural imaterial pernambucano. Isso somente ocorreu graças ao reconhecimento da importância destas iguarias para a preservação da cultural, ação movida pelo do deputado estadual Pedro Eurico (PSDB), que é o autor da lei acima mencionada.
Veja o texto completo em:

Bolo Souza Leão e o Bolo de Rolo


Confira abaixo as receitas do bolo-patrimônio:

Bolo Souza Leão

Ingredientes:
- 6 xícaras de leite de coco
- 2 xícaras de água
- 2 xícaras de manteiga
- 1 kg de açúcar
- 1 kg de puba (massa de mandioca fermentada)
- 18 gemas
- 1 pitada de sal

Modo de preparo:
Leve o açúcar com a água ao fogo alto, mexendo até dissolvê-lo. Pare de mexer e deixe ferver por 8 minutos ou até a calda atingir o ponto de fio. Retire do fogo e acrescente a manteiga, misturando até derreter. Deixe esfriar completamente. Lave, escorra e peneire a massa de mandioca. Junte as gemas e bata por 5 minutos. Ponha o leite de coco e o sal e misture até ficar homogêneo. Adicione a calda de açúcar com manteiga. Misture. Aqueça o forno em temperatura média. Passe a massa por uma peneira. Forre o fundo da forma com papel manteiga. Unte o papel e a lateral da forma com bastante manteiga. Ponha a massa e asse por 1h e 20 minutos ou até que, ao enfiar um palito, ele saia limpo. Desenforme quando estiver morno.

Fonte Bibliográfica:
FREYRE, Gilberto. Açúcar: em torno da etnografia da história e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil. Recife: Fundaj, Ed. Massangana, 1987

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