quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

A missa do galo anuncia também a hora que a ceia será servida?

Já escutei pessoas reclamando que a missa do galo demora demais! E a raiva embutida nesta frase se deve pelo fato de que, para muitos, a ceia de natal só acontece depois que a missa do galo termina... Ou seja, além do significado religioso a missa do  galo  também virou relogio que marca a hora de ceiar.
E eu fiquei, mas porque resolveram colocar a missa de natal com o nome desta ave? Vejam a resposta.

Tradicionalmente, a Missa celebrada na véspera do Natal é denominada Missa do Galo. Este é o nome dado à celebração da Eucaristia que deve acontecer a meia-noite do dia 24 de dezembro, isto é, na véspera do dia de Natal. A Missa foi instituída pelo Papa São Telésforo, no ano 143.
Papa Telésforo

Desde o século IV, um hino latino cantado na cerimônia do Natal aponta o nascimento do Cristo no meio da noite. Daí o costume de assumir a meia-noite como hora do nascimento de Jesus. 
A partir do ano 330, a Igreja passou a celebrar, em Roma, o nascimento de Jesus a 25 de dezembro. Porque se tratava do dia do solstício do inverno romano. Neste dia também dedicado ao nascimento do sol, que os pagãos festejavam como o natal do Deus-Sol – Natalis Invictus. Por isso, os romanos passaram a celebrar, nesse dia, a festa da posse do Deus-Imperador.
Foi diante deste fato que o Imperador cristão Constantino substituiu as festas pagãs, com um sincretismo do culto ao Sol e ao Imperador. Instituiu a Festa de Natal do Sol da Justiça e da Luz do Mundo, Jesus Cristo. Como preparavam a festa do Sol, com as festas pagãs de 17 a 24 de dezembro, chamadas Saturnais, assim surgiu o Tempo do Advento, para preparar o Natal de Cristo.
Constantino I

Que todos os juízes, e todos os habitantes da Cidade, e todos os mercadores e artífices descansem no venerável dia do Sol. Não obstante, atentam os lavradores com plena liberdade ao cultivo dos campos; visto acontecer a miúdo que nenhum outro dia é tão adequado à semeadura do grão ou ao plantio da vinha; daí o não se dever deixar passar o tempo favorável concedido pelo Céu." - Codex Justinianus, lib. 13 it. 12, par. 2 (3).

Esse decreto foi promulgado em 07 de março de 321 pelo imperador Constantino e visava, dentre outros motivos, oficializar o dia à adoração ao deus Sol Invictus, tornando o culto a esse deus, a religião oficial na época do baixo Império Romano. A veneração ao deus Sol tem forte ligação em vários aspectos com o Mitraísmo, que era a religião predominante no alto império. Por exemplo, os mitraístas se reuniam a cada domingo (primeiro dia da semana) para cultuar o deus Mitra, e esse dia era adotado, também, para os cultos ao "deus Sol". Com o transcorrer do tempo houve o enfraquecimento ao culto a Mitra e o fortalecimento ao Sol Invictus, passando este último a ser a base religiosa no paganismo dentro do Império Romano.
Deus Mitra
Sol Invictus

Constantino era mitraísta e seguidor do deus Sol e, segundo os relatos históricos, ele foi o primeiro imperador a se "converter" ao cristianismo, mas, por motivos políticos e religiosos não abandou de forma definitiva a sua antiga religião, pois era grande a influência que ele (como imperador) exercia aos súditos pagãos do império. Sobre o edito de Constantino, comenta-se:

"O Sol era festejado universalmente como o invencível guia e protetor de Constantino... Constantino averbou de Dies Solis (dia do Sol) o 'dia do Senhor' - um nome que não podia ofender os ouvidos de seus súditos pagãos." - The History of the Decline and Fall of the Roman Empire, cap. 20 §§ 2.º, 3.º (vol. 2, 1993, p. 429-430).

"O imperador Constantino, antes de sua conversão, reverenciava todos os deuses (pagãos) como tendo poderes misteriosos, especialmente Apolo, o deus do Sol, ao qual, no ano 308, ele [Constantino] conferiu dádivas riquíssimas; e quando se tornou monoteísta, o deus a qual adorava era - segundo nos informa Uhlhorn - antes o "Sol inconquistável" e não o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. E na verdade quando ele impôs a observância do dia do Senhor (domingo) não o fez sob o nome de sabbatum ou dies domini, mas sob o título antigo, astrológico e pagão de Dies Solis, de modo que a lei era aplicável tanto aos adoradores de Apolo e Mitra como aos cristãos." - CHAMBER, T. W. (1886). Old Testament Student.

"A conservação do antigo nome pagão de "Dies Solis" ou "Sunday" (dia do Sol) para a festa semanal cristã é, em grande parte, devida à união dos sentimentos pagão e cristão, pelo qual foi o primeiro dia da semana imposto por Constantino aos seus súditos - tanto pagãos como cristãos - como o "venerável dia do Sol"... Foi com esta maneira habilidosa que conseguiu harmonizar as religiões discordantes do império, unindo-as sob uma constituição comum." - STANLEY, D. Lectures on The History on the Eastern Church, (6.ª conferência), p. 184.

A fim de justificar a celebração do natal muitos tentaram identificar os elementos pagãos com símbolos bíblicos. Jesus, por exemplo, foi identificado com o deus-sol. Tertuliano teve que assegurar que o sol não era o Deus dos cristãos, e Agostinho denunciou a identificação herética de Cristo com o sol. O salmo 84:11 diz que Jesus é sol. Mas este versículo não está dizendo que Jesus é o deus sol ou que o sol é um deus, mas que assim como o sol ilumina toda a humanidade, Jesus é a Luz que alumia todos os homens (Veja Lc.1:78,79 e Jo.1:9).
Na basílica dos apóstolos muitos cristãos, identificando Cristo com o deus-sol, viravam seus rostos para o oriente a fim de adorá-lo. O próprio papa Leão I reprovou o ressurgimento desta prática, como já havia acontecido com o povo de Israel: “...e com os rostos para o oriente, adoravam o sol virados para o oriente” (Ez.8:16). 
No século IV, a comunidade cristã de Jerusalém ia em peregrinação a Belém, para celebrar a Missa do Natal na primeira vigília da noite dos judeus, na hora do primeiro canto do galo, mencionado por Jesus na traição de Pedro (Mt. 26,34 e Mc 14,68.72).

Por isso, a Missa da meia noite no Natal, se chama Missa do Galo, do primeiro canto do galo. Essa missa do galo é celebrada, em Roma, desde o século V, na Basílica de Santa Maria Maior. Pois, o galo, também publica o nascer do sol. Outra explicação para o termo  "Missa do Galo" teve origem no fato de Jesus ser considerado o sol nascente que veio nos visitar. Só a Missa do Galo e a Missa de Páscoa são celebradas à meia-noite, pois nelas há o sentido de procurar a luz no meio da noite.
O galo era considerado uma ave sagrada no antigo Império Romano. O animal passou a simbolizar vigilância, fidelidade e testemunho cristão. O galo é ainda a primeira ave a ver os raios de sol e, portanto, ao reverenciar o sol nascente, o galo estaria louvando, primeiramente, a Jesus Cristo. Por isso, no século IX, o galo foi parar no campanário das igrejas.

Ainda existe uma famosa lenda que trata da importância do galo para o mundo, conto que apresenta uma possível explicação para a existência da coroa vermelha que os galos possuem.

Uma lenda chinesa para mostrar como o galo adquiriu a sua coroa vermelha...

Há muitos, muitos anos atrás, quando o mundo acabara de ser criado, a Terra vivia debaixo de seis sóis e não de apenas um. Uma Primavera, após os camponeses terem preparado os seus campos já semeados, a água das chuvas não veio e os seis sóis queimaram tudo. Então o povo dirigiu-se ao imperador Yao que reinava na China e pediu-lhe ajuda. Como fazer para resolver tal situação? Questionou o imperador. Um seu conselheiro sugeriu-lhe que se tentasse acertar nos sóis e matá-los. O Imperador chamou então os seus melhores arqueiros e determinou-lhes que apontassem para os sóis. Os arqueiros lançaram as suas flechas em direção aos sóis mas as suas flechas bem longe ficaram dos alvos.
Resolveu então solicitar ajuda do príncipe Ho Yi de uma tribo vizinha, dado que era famoso na sua mestria de arqueiro. Ho Yi acedeu, apontou o arco, mas disse ao imperador: ‘Lamentavelmente, eles estão longe demais para os poder alcançar’. De repente, olhando o lago existente no palácio do Imperador e vendo os seis sóis nele refletidos, exclamou: ‘Mas se os temos aqui tão perto porque não alvejá-los aqui? E um a um, certeiramente, foi alvejando os sóis e, um a um, foram desaparecendo.
Porém, o sexto, prevenindo-se, fugiu para detrás da montanha mais próxima. Os camponeses rejubilaram e foram dormir descansados. No dia seguinte, porém, acordaram numa imensa escuridão, pois o sexto sol, de tanto medo de ser morto, mantinha-se escondido.
Tudo foi tentado pelos camponeses: primeiro, um tigre rugindo, rugindo para o fazer sair detrás da montanha para outro local; depois, a táctica inversa, uma vaca mugindo de forma apaziguadora e dócil para o acalmar e mostrar-se. Mas o Sol recusava-se a aparecer.
Estão um camponês trouxe um galo que cantou. E ouve-se a voz do Sol dizendo: Ó que maravilhosa voz! E espreitando sobre a montanha fez-se, de novo, luz.
O Sol, como prêmio ao belo cantor, coroou-o com uma coroa vermelha. E desde aí o galo, orgulhoso da sua coroa, canta pela aurora acordando o Sol.
O Galo é também na tradição chinesa, por excelência, o espantador de demônios. É por esta razão que muitas vezes são colocadas figuras de um galo branco nos caixões para “limpar” de demônios o caminho que o defunto irá percorrer. O seu canto ao nascer do sol tem, também segundo a tradição chinesa, o efeito de afugentar os demônios que vivem mal com a luz do dia.

Depois desta historia toda, e se você não quiser esperar a missa do  galo terminar para poder se esbaldar na ceia, deixo uma receitinha pra você preparar e se deliciar



Bacalhau com lentilhas

4 pedaços de filés ou postas de bacalhau fresco sem pele, cerca de 140 gramas cada
1-2 pimentas-malaguetas vermelhas, sem sementes e bem picadas
2 colheres de (sopa) de azeite de oliva extra-virgem
2 alhos-porós de tamanho médio, picados
170 gramas de lentilhas, lavadas e escorridas
1 pitada de pimenta-cayena em pó
2 talos de aipo, picados
Fatias de limão para servir
750 ml de caldo de legumes
1 ramo de tomilho fresco
Sal e pimenta-do-reino
1 cebola, picada
1 folha de louro
Suco de 1 limão

Pré-aqueça o forno em fogo médio alto. Numa panela, aqueça 1 colher de sopa do azeite, acrescente a cebola, o aipo, o alho-poró e a pimenta-malagueta, e refogue em fogo brando por 2 minutos. Adicione as lentilhas. Junte o caldo de legumes, o tomilho e o louro e deixe ferver. Baixe um pouco mais o fogo e deixe cozinhar por cerca de 20 minutos ou até as lentilhas ficarem macias. Se, no final desse tempo, elas não tiverem absorvido todo o caldo, escorra-as (você pode usar o excesso de caldo para preparar uma sopa). Enquanto as lentilhas cozinham, misture a colher de sopa restante de azeite, o suco de limão e a pimenta-cayena. Coloque o bacalhau numa assadeira, tempere com sal e pimenta-do-reino e pincele com a mistura de azeite. Asse por 6 a 7 minutos ou até o peixe se desfazer com facilidade. Não há necessidade de virar o peixe. Disponha as lentilhas numa travessa aquecida e arrume por cima os pedaços de bacalhau. Sirva bem quente, com fatias de limão.

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