Mais
um Natal se aproxima, e com ele surgem as delicias que geralmente se
encontramos atiçar a gula e decorar as mesas sempre fartas dessa época do ano,
principalmente, com pães/bolos natalinos carregados com a riqueza de sabores e
aromas. Em anos anteriores já tratei sobre alguns dos principais, como: o
Panetone (AQUI), o Pandoro de Verona (AQUI), o Panforte de Siena (AQUI), o
Christmas Cake (AQUI), o Bolo Rei (AQUI), e hoje acrescentarei nessa lista mais
uma das icônicas produções natalinas, o indiscutivelmente amanteigado e
delicioso Stollen germânico.
Um
Stollen ou um Stolle (do antigo alto alemão stollo, "Pfosten",
"Stütze") é um pão/bolo de massa de fermentada, pesada, enriquecida
com cascas de frutas cítricas e outras frutas cristalizadas, nozes, especiarias
e passas embebidas em bebida (geralmente rum ou conhaque), podendo ter recheios
como marzipan, creme frangipane e sementes de papoula. Mas, nem sempre foi
assim...
Há
um registro de 1474, nos relatos do Hospital Cristão de São Bartolomeu em
Dresden, que se refere ao stollen como um bolo para o período de jejum,
consistindo apenas de farinha, aveia e água, conforme exigido pelo dogma da
Igreja. Ou seja, na sua primeira encarnação, o stollen era feito apenas de
farinha, aveia e água. Sem açúcar, sem frutas, sem bebida – o que resultaria
numa massa pesada, dura e seca.
Com
a evolução dos anos, passou a incluir farinha de trigo, óleo, água e fermento.
Até aí, tudo bem. Mas como o stollen era geralmente assado durante o Advento
(as cinco semanas de jejum que antecedem o Natal), por volta do século XIV a
Igreja proibiu o uso de manteiga em comidas de épocas onde se deveria jejuar.
Cinco papas depois, um Senhor ilustre da Saxônia conseguiria finalmente a
permissão para usar manteiga sem pagar multa. Por causa desta dispensação
especial, o stollen tornou-se conhecido como o ‘alimento dos reis’, e é sobre
estra preparação que começo a apresentar os fatos.
Embora
o stollen possa ser feito durante todo o ano, é tradicionalmente preparado e/ou
consumido no Advento e no Natal e, neste caso, torna-se conhecido como
Christstollen ou Weihnachtsstollen, sem que haja diferenças fundamentais na
receita.
O
stollen pode ainda apresentar nomes diferentes: Stollen de Dresden – esse é um
dos mais populares e leva a cidade de origem como estampado como marca -,
Strutzel, Striezel, Stutenbrot ou Christstollen. Engraçado é perceber que
palavra Stollen era também usada para se referir a um poste alto ou pedra de
fronteira em uma cidade, e aos troncos de madeira.
Não
por acaso, acredita-se que o stollen recebeu esse nome pelo fato do seu formato
lembrar os postes feitos de troncos que sustentavam as minas, além do fato de a
preparação ser uma das quais os mineiros levavam para comer durante o seu
trabalho no subsolo. Apara alguns, a forma do stollen ainda lembra a entrada de
um túnel de mina, refletindo a mineração de prata e estanho na área de Dresden,
cidade famosa mundialmente por seus Stollens.
Entretanto,
ainda existem aqueles que preferem acreditar que a forma do stollen tem ligação
religiosa: lembraria ao “menino Jesus enrolado em panos – a camada de açúcar
que cobre o doce seria esse tal ‘pano de cobertura’ e daí, também ser chamado
de Christstollen.
Dentre
os stollens de Natal existem variações que tem nomes específicos de acordo com
alteração de ingredientes, como: Mandelstollen (quando se aumenta a quantidade
de amêndoas na massa), Mohnstollen (semente de papoula), Quarkstollen (queijo
quark), Nuss-Stollen (nozes), Butterstollen (alto teor de manteiga), Dresdner
Stollen e Marzipanstollen.
Devido
à sua composição especial, esse pão/bolo mantem-se sempre suculento e não seca
muito rápido. Mas, se exposto ao ar por muito tempo pode trazer um gosto de ranço
devido a quantidade de manteiga usada na massa. Esse aspecto de durabilidade, em
especial justifica, o motivo de os mineiros de Dresden o levarem para as minas
já que o stollen não estraga facilmente.
Um Privilégio da Guilda de Padeiros de Naumburg 1329
A ocorrência escrita mais antiga da palavra Stollen para um doce de Natal é a menção em um privilégio de guilda do bispo de Naumburg, Heinrich I, von Grünberg, para o estabelecimento da guilda de padeiros na cidade. Dizem que esse privilégio ocorreu pelo fato de o bispo ter gostado de um delicioso pão feito por aquela guilda com os melhores ingredientes.
O
documento, que foi originalmente escrito em latim, se perdeu e só sobreviveu
nas traduções alemãs, que presumivelmente datam do século XVI, e contam que os
padeiros de Naumburg deveriam entregar: in vigilia nativitatis Christi duos
panes triticeos longos, qui stollen dicuntur, factos ex dimidio scephile
tritici urk. vj 1329; cf. Lepsius kl. schr. 1, 253).
Consequentemente,
eram dois pães brancos longos feitos de meio alqueire de trigo, mas o
certificado não contém uma receita ou uma descrição mais detalhada.
De
certo que no século XIV esta era uma preparação luxuosa do serviço de bufê de
Natal. Pelos padrões de hoje seriam fartos, mas simples, produtos assados que
têm pouca semelhança com os Stollen de hoje. Naquela época, o Stollen era
cozido em pães que pesavam 30 libras! O Stollen tornou-se uma parte tão
importante da vida dos dresdeneses que era cortado e servido com um utensílio especiail: uma faca exclusiva para stollen.
Também
era tradição que o primeiro pedaço de stollen fosse separado e guardado para
garantir que a família pudesse pagar um stollen no ano seguinte e o último
pedaço guardado para garantir que a família tivesse comida suficiente para o
ano.
Outras
crenças sobre o stollen diz que, se ele quebrasse ou se a massa do fermento
ficasse sensível e não crescesse, a dona de casa morreria. A única maneira de
evitar a maldição de um stollen quebrado seria comer doze tipos diferentes de
stollen no ano seguinte – o que não seria má ideia.
Atualmente,
para que um Stollen seja chamado “de Dresden”, ele deve conter manteiga,
farinha de trigo, casca de laranja, casca de limão e passas; o teor de manteiga
deve ser de até 50% do peso da massa (para os casos mais amanteigados).
Conservantes, saborizantes e margarinas são proibidos como ingredientes.
Segundo
a tradição, foi graças ao padeiro Heinrich Drasdo de Torgau, na Saxônia, que a
massa stollen foi aprimorada com ingredientes mais ricos, como amêndoas ou
frutas secas. Ao fazer isso, ele criou a base para o Stollen agora tão popular,
que também é conhecido como Striezel na Saxônia.
Em
1434, em Dresden, o príncipe Friedrich II e seu irmão, o duque Sigismundo,
iniciaram um grande mercado de Natal para comprar carne para as festividades do
feriado. Conforme o festival de sucesso cresceu e se expandiu para outros
produtos. Como o Christstollen era uma especialidade desta área, passou a ser
vendido nesse mercado de natal que passou a ser chamado de Streizelmarkt.
No
século XV, na Saxônia medieval (na Alemanha central, ao norte da Baviera e ao
sul de Brandemburgo), o Príncipe Ernst (1441–1486) e seu irmão duque Albrecht
(1443–1500) decidiram que queriam um pão de férias muito mais digno e escreveu
ao Papa Nicolau V (1397-1455). Eles alegaram que seus padeiros saxões
precisavam usar manteiga em seu stollen, já que o óleo em sua região era caro,
difícil de encontrar e tinha que ser feito com nabos – e até com beterrabas.
O
papa em 1450 negou aos irmãos nobres o primeiro apelo. Cinco papas tiveram que
morrer antes de finalmente, o Papa Inocêncio VIII (1432-1492) enviar uma carta
ao Príncipe em 1490, conhecida como "Butterbrief" ou "Carta da
Manteiga", que concedia o uso de manteiga sem ter que pagar multa, mas
apenas o Príncipe, sua família e agregados familiar poderiam usar a manteiga
para preparar o stollen.
Depois,
outras pessoas foram também autorizadas a usar manteiga, mas com a condição de
pagar anualmente 1/20 de um Gulden de ouro para apoiar a construção da Catedral
de Freiberg. Era uma espécie de receita gerando "indulgência de
manteiga" para a Igreja. Até que a proibição da manteiga foi removida
quando a Saxônia se tornou protestante e a aprovação do Papa não era mais
necessária.
Em
1560, um ou dois Christstollens gigantes, equivalente a 18 kg (36 libras) e
cerca de 5 pés de comprimento, foram entregues ao castelo do rei da Saxônia e
apresentados ao rei em suas festividades de feriado. E o festival do Stollen mantem essa tradição de preparar stollens gigantes até hoje.
Então,
de volta ao Festival Stollen... Augustus II, o Forte, (1670–1733) era o Senhor da
Saxônia, Rei da Polônia e Grão-Duque da Lituânia. O rei amava pompa, luxo,
esplendor e festas. Ele era como a versão germânica de Luís, o Rei Sol da
França que perdeu a cabeça na Revolução.
Em 1730, o "Rei Gus" queria impressionar seus súditos, e Sob o lema: "Não basta atirar - divirta-se também", ordenando que a Guilda dos Padeiros de Dresden fizesse um Stollen gigante, grande o suficiente para que todos tivessem uma porção para comemorar Zeithainer Lustlager – um festival que, na verdade, era mais uma forma de mostrar a força dos militares saxões, a muitos dignitários da Europa para ganhá-los como aliados.
Acampamento perto de Zeithain, pintura de Johann Alexander Thiele 1730Havia mais de 24.000 convidados participando do lendário festival, no qual devoraram mais de162 bois e beberam 54.000 potes de vinho. Para esta ocasião especial, o arquiteto da corte Matthaus Daniel Poppelmann (1662-1737) construiu um enorme forno Stollen. Foi então uma famosa faca foi projetada para a ocasião (Essa história me lembra uma das minhas falas favoritas do filme Willy Wonka e a Fábrica de Chocolate, “Augustus, reserve um pouco de espaço para depois!”
Essa gravura de Elias Back (1730) mostra o tamanho do stollen e o do forno preparados especialmente para o festivalEntão, depois da comilança, veio a sobremesa: sete metros e meio de comprimento, três e meio de largura, um metro e meio de altura e pesando 1,8 toneladas e assada por seis horas em um forno especialmente construído.
Este
Festival do Stollen de Dresden, tradicionalmente realizado no segundo domingo
do Advento, ocorre quase continuamente desde que o Rei Augusto, o Forte,
iniciou a tradição em 1730.
Uma
grande faca de tamanho é usada para cortar o stollen em pedaços que são
distribuídos por uma pequena taxa indo para a caridade. Essa faca, chamada de
"Grande Faca Stollen de Dresden", é uma faca prateada, com 1,5 metro
de comprimento e pesando mais de 26 libras, e é uma cópia da faca barroca original
perdida de 1730. Como você pode ver, o povo de Dresden levar o Stollen de Natal
muito a sério.
Dito
isso, não se pode esquecer que o pão/bolo de frutas vem sendo apresentados (e
modificados) desde os antigos romanos. Eles faziam uma espécie de barra energética
de cevada, sementes de romã, nozes e passas. Afinal, aqueles romanos malucos
tinham muito que conquistar o mundo. Mas
é na Idade Média que o bolo de frutas moderno pode ser rastreado com as
características que nós conhecemos. Foi quando frutas secas se tornaram
amplamente disponíveis e os europeus ocidentais as integraram em seus pães.
Variações sobre esses pães frutados surgiram.
Primeiro
veio o panforte doce e picante da Itália (traduzido como "pão forte",
já inclui o link para ele no início da postagem) que saiu de Siena do século
XIII. Depois veio o stollen de Dresden, cuja primeira menção em documentos
oficiais foi em 1474. Originalmente chamado de Strietzel, é produzido na cidade
de Dresden e marcado por um selo especial representando o Rei Augusto II, o
Forte. Apenas 150 padeiros sortudos de Dresden têm permissão para fazer este
stollen oficial. Eu imagino uma "máfia de bolo de frutas" a quem um
padeiro de Dresden deve dar o dízimo para entrar neste círculo exclusivo.
Com
o passar dos séculos, o stollen mudou para melhor. A tradição de fazer bolos de
frutas para ocasiões especiais, como casamentos e feriados, ganhou popularidade
nos séculos 18 e 19, embora sua ocasião no Natal já estivesse bem estabelecida
na Saxônia. Por causa do custo dos ingredientes, era uma rara indulgência para
eventos especiais.
Hoje me dia, se você não quer ter trabalho em fazer seu próprio stollen, graças ao engenhoso e garantido sistema dos correios você pode encontrar uma boa padaria de Dresden vendendo stollen on line e encomendar o seu, legítimo. Mas, para os aventureiros na cozinha abaixo segue a receita. Guten Appetit!
Stollen
1 xícara (250 mL) de passas douradas
1
colher de sopa (15 mL) de casca de limão cristalizada
1
colher de sopa (15 mL) de casca de laranja cristalizada (ver nota)
2
colheres de sopa (30 mL) de rum escuro
1 1/2
xícaras (375 mL) de farinha de pão (uso dividido)
1/4
xícara mais 2 colheres de sopa (80 mL) de leite, aquecido (cerca de 80 ° F)
2 1/2
colher de chá (12 mL / 1 pacote) de fermento biológico seco instantâneo
10
colheres de sopa (150 mL) de manteiga sem sal, temperatura ambiente
1
colher de sopa (15 mL) de pasta de amêndoa (amêndoas trituradas até virar
pasta)
1
colher de sopa (15 mL) de açúcar
1
colher de chá (5 mL) de sal
1 colher
de chá (5 mL) de raspas de frutas cítricas (limão, laranja ou uma combinação de
ambos)
1/4
colher de chá (1 mL) de gengibre em pó
1/4
colher de chá (1 mL) de canela em pó
1/4
colher de chá (1 mL) pimenta da Jamaica
1/4
colher de chá (1 mL) de cravo moído
1/2
xícara (125 mL) de amêndoas escaldadas inteiras
3
colheres de sopa (45 mL) de manteiga sem sal, derretida
2
xícaras (500 mL) de açúcar (ou açúcar de baunilha), para enrolar
Preparo: Um
dia antes de preparar o pão, misture as passas, a casca de limão, a casca de
laranja e o rum em uma tigela pequena. Cubra e descanse em temperatura ambiente
durante a noite. Na tigela grande da batedeira com batedeira, misture 3/4 de
xícara de farinha de pão, leite e fermento. Misture em velocidade média até
formar uma massa, cerca de 4 minutos. Dependendo do tamanho da sua batedeira,
você pode precisar amassar a massa à mão por um momento, apenas para incorporar
todos os ingredientes secos. Cubra a tigela com filme plástico e deixe
descansar em um lugar quente até dobrar de tamanho, cerca de 30 minutos.
Destampe a tigela e adicione a farinha restante. Adicione a manteiga, a pasta
de amêndoa, o açúcar, o sal, as raspas, o gengibre, a canela, a pimenta da
Jamaica e o cravo. Misture em velocidade média-alta, raspando a tigela conforme
necessário, até que a mistura esteja lisa, mas ainda ligeiramente pegajosa,
cerca de 6 minutos. Cubra a tigela com filme plástico e descanse em um ambiente
aquecido até quase dobrar de tamanho, cerca de 35 minutos. Remova a massa da
tigela e bata suavemente em um círculo plano. Adicione as amêndoas à mistura de
passas embebidas e espalhe por cima da massa. Dobre suavemente as laterais da
massa sobre as passas, para incluí-las na mistura. Continue a dobrar a massa
sobre ela mesma até que as passas e as amêndoas estejam distribuídas
uniformemente por toda a massa. Retorne a massa para a tigela, cubra e descanse
por mais 10 minutos. Transfira a massa para uma superfície de trabalho limpa.
Divida em duas partes iguais e use a lateral da mão para arredondar levemente a
massa em bolas contra o balcão. Cubra a massa com filme plástico ou uma toalha
limpa e deixe descansar por cerca de 15 minutos. Pré-aqueça o forno a 180 °C.
Trabalhando com um pedaço de massa de cada vez, use as mãos para achatar
suavemente a massa até formar um quadrado. Dobre o primeiro terço superior da
massa em direção ao centro do quadrado e novamente em direção ao fundo,
formando um cilindro solto. Usando as palmas das mãos, enrole a massa em um
tronco de cerca de 18 centímetros de comprimento. Com a massa paralela à borda
do balcão, coloque um rolo no centro da massa e role suavemente para cima, para
nivelar a metade superior da massa (até que tenha cerca de 3/4 polegadas de
espessura). Dobre a parte superior da massa em direção ao centro, para
encontrar a parte inferior mais espessa da massa. Pressione levemente para
baixo com o lado da mão para selar a costura e transfira para uma assadeira
forrada de papel manteiga. Repita com o segundo pedaço de massa. Descanse a
massa, descoberta, até que esteja ligeiramente inchada, cerca de 30 minutos.
Transfira para o forno e leve ao forno até que esteja dourado e pareça oco
quando batido, cerca de 35 minutos. Retire do forno e transfira para uma gradinha
para esfriar um pouco. Quando o stollen ainda estiver quente, mas o suficiente
para manusear, pincele cada pão com manteiga derretida. Enrole o açúcar e volte
a uma gradinha de resfriamento até esfriar completamente. Você pode servir o
pão agora ou, para um sabor mais completo, embrulhe o pão em filme plástico e
leve à geladeira por 3 semanas.
Nota: se
você não conseguir encontrar cascas de frutas cítricas cristalizadas em sua
mercearia, pode substituí-las por uma quantidade igual de outras frutas secas, como
passas, cranberries secas ou groselhas secas.
Nossa que maravilha, minha esposa faz, fica muito saboroso, no lugar do fermento em pó, ela usa levan, uma técnica de fermentação natural
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