quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

O picles de Natal: uma tradição alemã?


As festividades natalinas são realizadas numa época do ano onde tudo parece mais bonito e iluminado: a criatividade das decorações e a engenhosidade dos enfeites encantam as crianças e levam os adultos à loucura, especialmente aqueles que tem uma mania por colecionar itens de decoração para o Natal.

Eu, particularmente, sou de uma época onde os enfeites feitos no fino vidro eram de uma elegância indiscutível, coisa rara na atualidade. Lembro de ter quebrado muitos desses enfeites de vidro simplesmente por um ligeiro descuido... hoje em dia, com a modernidade dos materiais de fabricação e o avanço tecnológico, os enfeites de Natal mudaram muito, ganhando certa durabilidade, mas a grande maioria caiu no quesito qualidade:  embora sejam feitos com materiais de algum tipo plástico, não são bem detalhados, trazem pinturas feias e imagens deformadas... e isso pode deixar um Natal assustador!

Até a bem poucos anos, eu colecionava imagens de enfeites natalinos de vários lugares que eu colecionava e postava imagens na minha página pessoal do Instagram (como vocês podem ver alguns dos exemplos que eu postei, nas imagens abaixo). 



Mas a dificuldade de encontrá-los  e os preços altos me fizeram parar... esse meu fascínio pelo Natal, entretanto, continua, e eu me permito sempre sair pelos shoppings e lugares mais enfeitados das cidades, nessa época do ano, simplesmente para admirar as decorações. E é aqui, que a história de hoje começa...

Viagens de fim de ano são excelentes para admirar a criatividade natalina das pessoas. O comércio fica altamente aquecido e as lojas decoradas ao gosto dos donos: umas, investem quantias altas nas decorações de Natal, enquanto outro, penduram os velhos festões desbotados dos anos anteriores...

Se você, por acaso, estiver passeando pelos Estados Unidos nessa época natalina, olhe atentamente para uma árvore de Natal decorada e você poderá encontrar um enfeite em forma de picles escondido bem no fundo dos galhos verdes.


A verdade é que o enfeite de picles tem até nome: chama-se saure gurke, ou Weihnachtsgurke, e existe desde longa data.

O enfeite tem o formato de um pequeno pepino, um dos ingredientes mais tradicionais usados em picles. Neste caso, o enfeite é geralmente feito de vidro, mas encontrei em plásticos e outros materiais.

Nos Estados Unidos, em particular, há o costume natalino de esconder o "Picles de Natal", na árvore de Natal, entre os galhos verde dos pinheiros. Como o pepino é tão verde quanto os galhos da árvore o que torna-se tarefa difícil encontrá-lo. Assim, dizem que, segundo o folclore alemão, quem encontrar o picles da árvore na manhã de Natal terá sorte no ano seguinte.

Todos os convidados das festas devem procurar o pepino na véspera de Natal. Quem descobrir o pingente de vidro primeiro recebe uma recompensa. O tipo de recompensa varia de família para família. Frequentemente, o explorador pode começar a desempacotar os presentes. Mas às vezes ele também recebe um pequeno presente adicional.

Origens do Pickle de Natal

Estou escrevendo para o blog sobre um pão/bolo alemão tipicamente natalino e aproveitei para perguntar para alguns alemães, por meio de grupos sobre estudos da alimentação que eu participo no Facebook, sobre o costume de Weihnachtsgurke. Acabei descobrindo que, por lá, essa tradição não era conhecida, em termos. Vamos por partes:

Existem vários mitos em torno da história do pepino de Natal. Diz uma lenda que a tradição começou no início do século XX. Naquela época, as famílias não tinham dinheiro para comprar um presente para cada criança. Então, só a criança que achasse o picles escondido na árvore de Natal receberia uma ‘’coisinha.


Então, como essa tradição supostamente "alemã" passou a ser celebrada nos EUA?

Conexões com a Guerra Civil Americana

Muitas das evidências das origens históricas do picles de Natal são de natureza anedótica. A explicação popular liga a tradição a um soldado bávaro chamado John Lower, que foi capturado na Guerra Civil Americana e encarcerado na famosa prisão Confederada em Andersonville, Geórgia.

O soldado, com saúde debilitada e faminto, implorou a seus captores por comida. Um guarda, com pena do homem, deu-lhe picles como a "refeição do carrasco". Como que por milagre, depois de comê-lo, John Lower teve sua saúde melhorada e ele pôde continuar vivendo, sobreviveu ao cativeiro. Depois de alguns anos, ele foi solto e começou a pendurar um pequeno pepino em picles em sua árvore de Natal ano após ano.

A versão do Woolworth

A tradição festiva de decorar uma árvore de Natal não se tornou comum até as últimas décadas do século XIX. Na verdade, observar o Natal como um feriado não era comum até a Guerra Civil norte-americana . Antes disso, a comemoração do dia era restrita aos imigrantes ingleses e alemães mais ricos, que observavam os costumes de suas terras nativas.

Mas durante e depois da Guerra Civil, à medida que a nação se expandia e comunidades antes isoladas de americanos começaram a se misturar com mais frequência, a observação do Natal como um momento de lembrança, família e fé se tornou mais comum.

Na década de 1880, a F.W. Woolworth's, uma pioneira em merchandising e a precursora das grandes redes de drogarias de hoje, começou a vender enfeites de Natal, alguns dos quais importados da Alemanha. É possível que enfeites em forma de picles estivessem entre os vendidos, como você verá na história a seguir.

A ligação com a Alemanha

Há uma tênue conexão alemã com o enfeite de vidro no formato de pepino em conserva. Já em 1597, a pequena cidade de Lauscha, agora no estado alemão da Turíngia, era conhecida por sua indústria de sopro de vidro.

A pequena indústria de sopradores de vidro produzia copos e recipientes de vidro. Em 1847, alguns artesãos de Lauscha começaram a produzir ornamentos de vidro (Glasschmuck) em forma de frutas e nozes.

Estes eram feitos em um processo único de sopro manual combinado com moldes (formgeblasener Christbaumschmuck), permitindo que os enfeites fossem produzidos em grandes quantidades. Logo, esses enfeites de Natal exclusivos estavam sendo exportados para outras partes da Europa, bem como para a Inglaterra e os Estados Unidos da América. Hoje, vários fabricantes de vidro em Lauscha e em outras partes da Alemanha vendem enfeites em forma de picles.

Esta tese é sustentada pelo fato de que existe uma forma antiga de produção de decorações de Natal que o soprador de vidro Gernot Weigelt possui.

Diz-se que esse tipo de pepino de Natal foi produzido por volta de 1900 e, em seguida, transmitido de uma geração à outra. Uma coisa é certa, porém: hoje apenas alguns alemães conhecem o pepino de Natal como um enfeite de árvore de Natal.

Assim, a popularidade do picles de Natal também está aumentando também Alemanha. Estão disponíveis em diversos tamanhos, decorados com glitter ou neve, e nas versões brilhante e mate.


Até em muitas lojas on line você encontra os pepinos de Natal para compra ao custo de 6 e 25 euros, dependendo do tamanho, qualidade e design.

Algumas famílias ainda se recusam a pendurar um pepino entre as bolas da árvore de Natal, estrelas de palha e enfeites de Natal. Outros, entretanto, reconheceram que o pepino de Natal é uma ótima maneira de salvar uma resposta à pergunta anual de quem pode abrir o primeiro presente.

Um catálogo de Lyra Fahrrad-Werke de Prenzlau em Brandenburg de 1909 também inclui um pepino de Natal em suas decorações para árvores de Natal. Mas, ainda não está claro se os pepinos de Natal apareceram esporadicamente nos países de língua alemã nos últimos tempos remontam a uma tradição local quase esquecida ou a uma aquisição dos Estados Unidos.

Picles ainda é o nome comumente usado para designar as conservas de vegetais em vinagre. Essa técnica de conservação se produz a fermentação natural do alimento por ação de bactérias probióticas que preservam o alimento. Os primeiros picles feito com vinagre se originaram na antiga Mesopotâmia por volta de 2400 a.C. Há evidências arqueológicas de pepinos sendo transformados em picles no Vale do rio Tigre em 2030 a.C.

Há quem diga que uma das personalidades que consumia conservas de vegetais em vinagre era a rainha Cleópatra, do Egito: ela comia pois acreditava que o resultado fermentado desses alimentos a rejuvenesciam. Já o imperador de Roma, Júlio César, garantia que sua tropa tivesse o alimento sempre à mão, por acreditar que a conserva aumentava a força física dos soldados.

 Essa técnica continuou a se desenvolver na região do Oriente Médio antes de se espalhar para o Magreb, para a Sicília e para a Espanha. Da Espanha, espalhou-se para as Américas. Por outro lado, a feitura de picles fermentado no sal supostamente tem suas origens na China.

Picles em conserva é uma técnica usada como uma forma de conservar alimentos para uso fora de estação e para viagens longas, especialmente por mar. Carne de porco e carne bovina salgadas eram alimentos básicos comuns para marinheiros antes dos dias das máquinas a vapor. Embora o processo tenha sido inventado para conservar alimentos, os picles também são feitos e comidos porque as pessoas gostam dos sabores resultantes. Aos que indicam os estudos nessa área, o consumo de picles também pode melhorar o valor nutricional dos alimentos ao introduzir vitaminas B produzidas por bactérias.

A palavra picles, deriva do termo inglês "pickle" aparece pela primeira vez por volta de 1400 d.C. Vindo do inglês médio ‘pikel’, um molho picante servido com carne ou peixe, termo que foi emprestado do holandês médio ou do baixo alemão médio pekel ("salmoura"), mas mais tarde referido como conservado em salmoura ou vinagre.

Pensando nisso tudo, e sabendo que o Natal é uma época especial, deixo abaixo a receita de um picles incrementado que, de tão bom que fica, você pode até torna-lo em presente de natal.

Picles de Natal

150g de alho-poró

150g de cebola roxa

150g de abóbora

150g de cenoura

3 colheres de sopa de passas ou groselhas ou cerejas

1 colher de sopa de sal marinho

1 colher de chá de gengibre em pó

1 colher de chá de sementes de erva-doce

1 colher de chá de canela em pó

½ colher de chá de sementes de mostarda

½ colher de chá de pimenta preta ou branca moída

1 pitada de açafrão

500ml de cidra (o famoso e baratinho espumante cidra Cereser serve)

250ml de vinagre de maçã

5 colheres de sopa de mel

Preparo:  Lave sua seleção de potes e tampas; coloque-os em uma bandeja no forno a 160°C por 15 minutos para esterilizar. Coloque os vegetais, frutas, passas, sal e temperos em uma tigela grande; misture bem. Despeje a cidra em uma panela e deixe ferver. Reduza o fogo; junte o vinagre e o mel e misture até dissolver completamente. Adicione a mistura de vegetais; cozinhe por 5 minutos. Remova os potes e as tampas do forno. Transfira a mistura de vegetais para os potes quentes, enchendo-os a 2 cm do topo; em seguida, encha até o topo com o líquido. Use um pano limpo para rosquear as tampas quentes. Deixe esfriar completamente e guarde em um local escuro e fresco por 4 semanas antes de usar. Esses picles podem ser conservados por 1 ano, fechado; depois de aberto, leve à geladeira e coma em até 1 mês.

Dicas ou sugestões de serviço: Você pode usar qualquer vegetal de inverno (como abóbora, nabo, cenoura, aipo, aipo-rábano, Pastinaca (ou cherovia, parece uma cenoura branca), alho-poró, cebola - procure pelo menos 3 variedades, incluindo cebola ou alho-poró), cortado em pedaços pequenos

 


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