quinta-feira, 31 de março de 2011

As Toffanas: inspiração para os meus doces venenos

Hoje acordei um tanto maléfico...
Pra mim, não existe nada como uma boa dose de mistério (e uma dose de maldade?) para aguçar e apimentar a curiosidade humana. Principalmente quando se pode encontrar boas histórias, fatos intrigantes, vividos por pessoas comuns, cheias de qualidades e defeitos, assim como eu e você.

Por isso, hoje resolvi fazer uma bebidinha que chamo carinhosamente de doce veneno... mas para este post fui buscar uma alusão a uma famoso história de um clã de bruxas envenenadoras profissionais, As Toffanas, personagens que eu tenho uma afeição devido aos seus conhecimento sobre ervas e suas habilidades farmacêuticas, que servirão para incrementar meu post. Mas isso tudo só se justifica, pelo fato de que, na minha escrita eu adorava bricar com plantas, comer flores, e recordo bem de ter brincado muito com Belladonna, um dos ingredientes do famoso veneno da renascença - Acqua Toffana – estrela principal entre os venenos de criação das Toffanas.

Atropa belladonna

O nome cientifico da planta é Atropa Belladonna, nome que deriva de Átropos que, segundo a mitologia greco-romana, seria a divindade responsável pela morte das pessoas, ela fazia o corte do fio da vida... e faz todo sentido...

As Parcas (equivalentes às moiras gregas) eram 3 deusas: Nona (Cloto , em grego), Décima (Láquesis) e Morta (Átropos). Determinavam o curso da vida humana, decidindo questões como vida e morte, de maneira que nem Júpter (Zeus) podia contestar suas decisões. Nona tecia o fio da vida, Décima cuidava de sua extensão e caminho, Morta cortava o fio. Eram também designadas fates, daí o termo fatalidades. Interessante notar que em Roma se tinha a estrutura de calendário solar para os anos, e lunar para os atuais meses. A gravidez humana é de nove luas, não nove meses; portanto Nona tece o fio da vida no útero materno, até a nona lua; Décima representa o nascimento efetivo, o corte do cordão umbilical, o início da vida terrena, o individuo definido, a décima lua. Morta é a outra extremidade, o fim da vida terrena, que pode ocorrer a qualquer momento.

Talvez seja por estes dois motivos que eu tenha certa admiração pelas Toffanas: pelo fato de eu viver rodeado por belladonnas, na infância; e, por trazer essa fonte com etimologia que recorre ao personagem mitológico – a mitologia sempre foi  muito presente na minha vida (estudei isso por dez anos).
Mas, vamos ao que interessa. Aproveitem, e cuidado com o que bebem...

AS TOFFANAS


Não se sabe muito sobre a origem da primeira Toffana, Teofania di Adamo, nasceu e cresceu na Sicília, era eximia farmacêutica que produzia e vendia perfumes, cosméticos, fitoterápicos e outras misturas, e que foi executada em Palermo, em 12 de julho de 1633, época do regime do vice-rei Ferdinando Alfa de Ribeira, sob acusação de ter  envenenado o seu marido, Francis d'Adamo. Ela teria desenvolvido o veneno Acqua Toffana (água toffana)  por ódio da posição dos homens na sociedade e pela subjugação da mulher, e passara a vender o veneno em garrafas com a imagem de São Nicolau de Bari – este último supostamente teria matado o duque de Anjou, e os papas Pio II e Clemente XIV.



Enquanto Giulia Toffana, a segunda na linhagem das Toffanas, seria filha (ou para alguns, neta de Toffana d”Adamo) o que explicaria como ela aprendera os princípios de fabricação da Acqua Toffana. Alguns relatos apresentam Giuglia como uma mulher muito bonita e inteligente. E foi a sua beleza que lhe levou a conhecer boticários que, inadvertidamente, lhes contava sobre os venenos mais comuns, seu uso e como prepara-los.

Giulia Toffana


A inteligência de Giuglia lhe permitiu colher grandes lucros vendendo o veneno inodoro e insípido (água toffana) para mulheres insatisfeitas com o casamento e comprava, frascos do veneno como se fosse "Acqua di San Nicola di Bari”. Alguns historiadores relatam que foi através de Nápoles, que ficou conhecido como "Acqua di Napoli" e "Acqua di San Nicola di Bari." Este último, liquido sagrado que traria a cura, e talvez por este mesmo motivo fora de qualquer suspeita.
Frasco antigo da acqua de São Nicolau de Bari

O veneno desenvolvido e melhorado seria a forma perfeita de deixar as mulheres viúvas sem levantar suspeitas com apenas quatro gotas. Isso acabou levando a filha de Giuglia, Girolama Spera (a terceira na linhagem das Toffanas) a fugir com a mãe para Roma – ambas já eram conhecidas como bruxas famosas naquela época. Em Roma, desconhecidas, continuaram seus negócios e amealharam fortuna.
Porém o comércio de Giuglia foi levado a autoridade papal por um marido que, felizmente, escapou do envenenamento. E quando surgiu o boato de que Giuglia Toffana teria envenenado a água na cidade e a polícia a procurava desesperadamente. Sua popularidade era tanta que a população da cidade ajudou Giuglia a se abrigar com segurança numa igreja. Mas fora arrastada pelos policiais que a encontraram, para ser interrogada. Sob tortura, Giuglia Toffana confessou, sem remorso, que vendeu (só em Roma!) veneno suficiente para matar cerca de 600 homens, entre 1633 e 1651.
Ela foi condenada e executada em Roma, em 1659, juntamente com a filha e 3 aprendizes. Foram executadas no Campo di Fiore, e o corpo de Giuglia foi colocado dentro dos muros da igreja que lhe serviu de acolhimento.

Alguns dos usuários e provedores também foram presos e executados, enquanto outros cúmplices foram emparedados em masmorras do Palazzo Pucci.

Ilustração do Campo di Fiori

O veneno Água Toffana (Acqua Toffana, em italiano) levou o nome de Teofania D'Adamo sendo que, até hoje, a quantidades especificas dos elementos que o compõem são conhecidas por poucos – pra nossa sorte. Segundo os cronistas, trata-se de um líquido claro, sem gosto, composto da mistura de ingredientes como: arsênico, chumbo, belladonna e cimbalaria (Cymbalaria Linaria). As confissões D'Adamo, antes da sua execução, deu a entender que eram uma mistura de essências de plantas. E sabe-se que NÂO existe um antídoto para ele.

A duquesa de Ceri, uma nobre romana suspeita de ter usado o veneno de Giulia Tofana para matar seu marido.
Estudiosos dizem que o método de preparação desta poção era muito cruel: a bruxa pegava um leitão sedento e obrigava-o a tomar uma farta dose da mistura preparada pela bruxa. Então pendurava-o, ainda vivo, pelas patas traseiras com uma espécie de focinheira com um recipiente. O leitão era então morto a base da paulada e o recipiente da focinheira recolhido - a mistura de baba, sucos gástricos... Tudo aquilo que o animal soltava pela boca. Esta mistura era então destilada com água

A dose de veneno determina o início dos sintomas, e a velocidade com que a morte virá. Às vezes, dizia-se que apenas acelerava os efeitos de algumas outras doenças já contidas na vítima passiva. Em qualquer caso, não havia traços detectáveis no organismo pelos médicos da época.


Uma teoria já desacreditada pelos historiadores contemporâneos, trazia Wolfgang Amadeus Mozart como a vítima mais famosa do água toffana;  isso se deve a Maria e Vincent Novello ("A peregrinação Mozart"), no século XVIII, os fundadores da indústria moderna de publicação de música na Inglaterra, que trouxeram uma entrevista realizada 1829 na Áustria com Constanze, a viúva de Mozart, que afirma que "seis meses antes de sua morte, o célebre autor" tinha a impressão horrível "que ele foi envenenado por Acqua Toffana”.
Mas, como aqui não se pretende envenenar ninguém, ficam receitinhas de bebidas para surpreender os convivas...

Coquetel doce veneno do Barão de Gourmandise

1 colher de sopa de café solúvel extra forte
1/2 lata de leite condensado
2 copos de conhaque
2 colheres de sopa leite em pó
2 copos de gelo moído
1/2 colher de chá de canela
1/2 colher de cha de baunilha

Bata no liquidificador o leite condensado, o café, 1 copo de conhaque, 2 colheres de leite em pó, o gelo e a baunilha Quando estiver para terminar, acrescente o outro copo de conhaque Polvilhe com um pouco de canela por cima. Sirva bem gelado com chantilly

Coquetel doce veneno do Barão de Gourmandise II

01 dose de vodka
3/4 dose Bailey’s
02 bombons Sonho de Valsa
02 bolas de sorvete de creme
01 lance de groselha

Bata todos os ingredientes no liquidificador com gelo.

Depois, guarneça com chantilly e morango.



Coquetel doce veneno do Pecado do Barão de Gourmandise (Falsa Champagne)

1 lata de guaraná gelada
a mesma medida de vinho branco seco

Misture os dois ingredientes e sirva!

Dica: Se preferir, substitua o vinho branco por vinho rosé.


Um comentário:

  1. A culinária é uma das artes alquímicas mais importantes pra humanidade. A informação é outro elemento indispensável. obrigada por dedicar parte do seu tempo para instruir e esclarecer quem necessita. que a Deusa esteja com você.

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