quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Os deuses, a chuva, o raio, o trovão e o meu chá de flor - minha tisana...

Quando a noite começa agitada como a de ontem, já sei que tem turbulência chegando por aí... Não que eu seja supersticioso, mas já consigo entender os sinais que a natureza manda.
Depois de mais de dez anos estudando mitologias diversas, já entendi o quanto a força da natureza se faz presente e como as pessoas acreditam, ou não, nas forças que estão pro trás dela.
Assim, como ontem, a partir da meia noite a chuva começou a cair, se transformando numa tempestade, cheia de raios, trovões, relâmpagos, e se estendendo assim por mais de 4 horas seguidas, é sinal de que realmente tem revolta no “Olimpo”. E nós, meros mortais que nos cuidemos.
Pro nordestino a chuva tem significados diversos. Eu, particularmente acredito nas linhas que transcreverei a seguir, obviamente que sem muitas alegorias. Porém, cheia de significados.



Não contada em muitas traduções por ser considerada repetição da Mitologia, porém de evidente origem sumeriana com o deus Shamash explicando como distribuiu os bens e os castigos aos homens, eis como conta Esopo:
"Zeus criou o mundo e colocou o homem para cultivá-lo. Mandou em seguida chover para haver de tudo e o homem acostumou com a fartura e não deu importância e transgrediu as regras que recebeu. Aí Zeus avisou que iria mandar raios poderosos para castigar os maus. Escondidos nas trevas, os invasores deuses do mal Hades e Plutão aproveitaram-se dos fatos e aumentaram o barulho, ecoando o trovão por grandes distâncias e fazendo tremer a terra logo após o raio de Zeus. Ambos passaram a induzir os homens a ficar onde as chuvas poderiam inundar ou os raios poderiam matar. Assim, além do estardalhaço tardio, programaram esses direcionamentos maldosos para acontecerem tragédias com os bons e com os maus, fazendo avisos prévios, de modo que os homens ficam sempre olhando o que acontece ou pode acontecer de mau e não se dão conta de que os bens chovem todos os dias a toda hora. E ainda porque os deuses do mal ficam escondidos, a culpa pelos castigos e erros dos homens é atirada à conta da ira de Zeus". Estava tudo já muito bem explicado... Mas aí os invasores que têm o dom da invisibilidade também mandaram destruir e desmoralizar as narrativas que explicam como é o enredo... Shamash mandou emissários aos homens e das trevas os reis do mal induziram a matar os profetas. Está na hora de Alguém intervir, né?
Resultante da ação e da iniciativa do céu e das divindades que o habitam, a chuva é um símbolo universal de fecundidade e fertilidade. Praticamente em todas as tradições e civilizações agrárias, a chuva é comparada à semente humana como sendo o fluido divino que desencadeia o princípio criador da vida.
Em todo o Mundo e entre etnias tão diversas e radicadas em lugares tão diferentes, são constantes os rituais dedicados à chuva para que esta caia sobre a terra, a fecunde e a torne fértil. Filha das nuvens e das tempestades, a chuva está relacionada com elementos do fogo e da água.
Na Índia, é Indra a manifestação divina do raio que dá origem à chuva e torna férteis os campos, as mulheres e os animais. As mulheres grávidas na Índia são comparadas à chuva como sendo as nascentes auspiciosas de toda a riqueza e abundância.

Indra
No Islã, são os anjos que enviados por Deus transportam as gotas de chuva uma ideia que também existe na Índia, onde os seres subtis são transportados para a terra em gotas de chuva.


Na China, a chuva é uma manifestação do céu que é um princípio activo, masculino e fecundante. No Oriente, tanto na China como na Índia, considera-se que a chuva é de origem lunar e é de natureza Yin, enquanto que o orvalho, também lunar, é de natureza Yang.
Na Grécia, a lenda de Dánae conta que esta, tendo sido encerrada pelo pai num local subterrâneo blindado de bronze para evitar que tivesse filhos, foi fecundada por Zeus que entrou no recinto transformado numa chuva de ouro que pingou de uma fenda no teto.

Danae

Esta conotação sexual da chuva como o sêmen dos deuses é também encontrada entre os índios da América Central, que consideram a chuva a semente do deus da trovoada. Estes povos utilizam a mesma palavra para designar a chuva, a água e a vegetação.
Entre os Astecas, o deus da chuva é também o deus dos raios e dos trovões. Os Incas acreditavam que a chuva era retirada da Via Láctea, considerada um grande rio no céu, pelo deus das trovoadas.

Tlaloc

Para muitas civilizações centradas na agricultura, a chuva é também sangue, o que justifica os muitos rituais de sacrifício de animais e mesmo de seres humanos que têm como objetivo a fecundação da Terra.

Assim, quando a chuva cai em tempestade, como ocorreu nesta madrugada, cheia de perigos e maravilhas eu tenho uma poção mágica pra neutralizar o mal. É um chazinho de flor. Aqueço água pra deitar na flor dissecada, abafo e depois tomo. Uma maravilha
De origem chinesa, este meu chá de flor, chá de florescência ou lótus latern é o mais belo dos chás e talvez o mais trabalhoso deles.
Ele é feito de pequenas flores ressecadas (amaranto, flor de jasmim, lírio, calêndula, dália, lírio etc) enroladas em folhas de chá verde ou branco com um fio de algodão cru.
Dizem que esse processo acontece durante a primavera no sudoeste da China e as plantas são colhidas apenas no amanhecer. Alguns apontam que, por essas flores e folhas absorverem facilmente odores, as colhedoras devem ter cuidado até com a sua própria alimentação para que não condenem a colheita.
 
Servir o chá também é um ritual à parte. Desconheço o processo chinês, mas, para nós, pobres ocidentais, é necessário um bule ou uma xícara transparente que permita apreciar a abertura dessa bela flor à medida que a água quente cai sobre ela.


 


A classe e beleza são acompanhadas de também algumas indicações para a saúde. O chá de flor é recomendado para o estômago, a pele, a fígado, ,os pulmões, contra inflamação e até para estabilidade emocional e  brilho nos olhos, contra maldade. Pode?



 
 
No Brasil, parece estar disponível 8 tipos de flores diferentes distribuídas em alguns restaurantes chinesescasas de chá custando por volta de R$ 8 reais cada flor.


No entanto devo aqui fazer uma correção, meu chá, na realidade não passa de uma “tisana“.

Isso mesmo, palavrinha estranha, não é. E assim como eu, até bem pouco tempo, garanto que você, caro (a) leitor(a), não sabe o que é um chá de verdade. (Pior disso tudo é o trauma (risos) de saber que aprendi errado: que lá em casa todo mundo aprendeu errado: que os amigos que eu conheço, todos aprenderam errado; ninguém sabia o que era um chá de verdade – tadinho do meu avô, que todo dia bebia seu “chazinho de cidreira” – bebia enganado por que aquilo não era chá... era “tisana”).
Só pode ser considerado chá a bebida de uma erva chamada Camellia sinensis, nativa do leste da Ásia. Elas são colocadas de molho na água quente e está feito um chá de verdade. Porém, alguns fatores como o local onde a erva foi cultivada, como as folhas foram processadas, tamanho das folhas e dos sabores incorporados (como jasmin, flores de laranjeira, bergamota) podem variar não só o sabor da bebida, mas também o nome que damos a ela.
Os chás finos são produzidos na China, no Japão, na Índia, no Sri Lanka (Ceilão) e no Quênia, com uma grande variedade de preços e qualidades. Via de regra, os chás são produzidos da mesma forma até certo ponto: as folhas são colhidas, passam por uma secagem e são desidratadas, pela exposição ao sol ou por um ar quente. Depois disso, eles se dividem em três caminhos, que resultarão em chás diferentes.
Porém, antes de enveredarmos pro este caminho, preciso esclarecer mais uma coisinha a qual um bebedor de chá de respeito tem que saber: As folhas de chá contêm “taninos” – você já deve ter lido esse nome em algum rótulo de vinho. Os taninos são uma combinação de várias substâncias químicas de origem vegetal (polifenóis), que dão à bebida boa parte de seu sabor e textura. É ele que dá aquele efeito de adstringência na boca, como se você tivesse mordido uma fruta verde. Sabe quando você toma um chá e parece que dá um nó na sua língua? É uma sensação de que a boca está seca, áspera e contraída. Fora o chá verde, compostos de taninos é fermentado.
Nos chás, o que se chama de “fermentação” é, na verdade, uma “oxidação” por enzimas da própria planta. Entre os produtos resultantes dessa oxidação, estão compostos de cor bronze e laranja (a quem interessar: rubigina e flavina) que dão ao chá o colorido e o sabor, respectivamente. Logo, o tempo de oxidação também determina a cor e o sabor do chá - e ela pode ser interrompida com ar quente, que desativa a enzima que propicia a oxidação.

Assim temos três tipos de chás:


Chá verde - Feito com folhas jovens da planta do chá, que não são fermentadas – como acontece com o chá preto e o oolong. Após a colheita, as folhas são desidratadas  com ar quente ou então torradas em panelas de ferro para desativar as enzimas das células da planta que propiciam a oxidação, prevenindo assim a fermentação (oxidação). Consumido principalmente na Ásia, o chá verde virou febre aqui no Brasil há alguns anos, por suas prováveis propriedades antioxidantes, desintoxicantes e diuréticas – o que é explicado pelo fato de não haver a oxidação dos polifenóis, que são antioxidantes e nos protegem dos radicais livres.


Chá preto - As folhas são machucadas para expor seu interior ao oxigênio e para liberar a “enzima da oxidação do chá” (se interessar: é a polifenol oxidase, porque oxida os polifenóis nas folhas, os taninos). A cor, resultantes da oxidação, pode ir do âmbar ao vermelho; enquanto o sabor se torna pouco adstringente.


Chá oolong (“dragão preto”, em chinês) - Também é feito de folhas jovens, porém semifermentadas, o que faz com que o sabor deste chá fique entre o do chá verde e o chá preto.  O processo é exatamente o mesmo do chá preto, só que com um tempo de oxidação menor, fazendo com que sua cor seja mais suave (entre um amarelado e um âmbar-claro) e o sabor mais ou menos adstringente.

Cada um desses tipos de chá poderão ser aromatizados através de um armazenamento feito com flores (como flores de laranjeira, jasmin ou bergamota) ou mesmo com essências. Daí cria-se uma variedade de chás – você já deve ter reparado pelo menos nos chás verdes, como são vendidos com uma porção de aromas diferenciados.
Daí você deve estar se perguntando:  - “Mas e o chá mate que eu tomo; o chá de camomila – que em acalma; o chá de boldo – que melhora meu estômago:  e todos os chás que eu conheço não  são chás? Sinto lhe informar, mas NÃO SÃO CHÁS. Fora a Camellia sinensis, qualquer material vegetal (ervas, folhas, flores, raízes, cascas, frutos…) pode ser colocado de molho na água quente para fazer uma infusão, que é chamada de “tisana“. Pode ser uma infusão de camomila ou de ervas venenosas, mas será sempre uma “tisana”.
“Ah, mas eu chamo de ‘chá de ervas’, não está certo?” Não. Chá é chá, tisana é tisana. Quando não for uma infusão de Camellia sinensis, não é chá.
“Então quando eu coloco os pés de molho na água quente, estou fazendo uma infusão?” Não, porque seu pé não é um material vegetal e não vai resultar em uma bebida aromática.
“Entendi muito bem. Tisana não é chá e chá não é tisana.” Nananinanão. Chá é tisana também, só que leva o nome de chá porque é feito da Camellia sinensis.
O negócio é o seguinte: só chame de chá o que for chá.
Achou a palavra tisana feia? Mas é o nome que ela tem. É o que tem pra hoje... Vou beber meu chá... Ops, minha tisana...
 

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