terça-feira, 14 de setembro de 2010

Bolinhos da coincidência

Depois de uma noite conturbada por pesadelos estranhos e reais, acordei com a cabeça pesada e levemente dolorida. Há quem diga que acordar com o canto dos pássaros é sempre um episódio que lembra a beleza de filmes românticos. Mas acredito que ninguém sabe o quanto pode ser infernal você acordar com dor de cabeça e ter próximo de você um hotel de pássaros (é assim que chamo uma árvore enorme que está no quintal da minha vizinha) gorjeando harmonicamente, todos felizes e radiantes...
Não que eu tenha acordado amargo, é que ás vezes a realidade surge espontaneamente para nos deixar mais avisados do que vem pela frente durante o dia. Depois de escovar os dentes, ainda não sabia o que comer no desjejum – é que sempre procuro variar essa refeição pro dia se tornar diferente.
Enquanto lembrava as cenas do filme Latter days, que tratava sempre da presença da coincidência na vida das pessoas, dentre outros assunto, fui à despensa pegar a farinha de trigo com fermento e logo peneirei uma xícara dela num boll de vidro que já tem a minha alma nele de tanto que o uso.

Deixei  a farinha de lado porque não sabia o que fazer  com ela. Se eu nem sabia o que eu ia fazer com o meu dia, imagina se saberia o que fazer naquela hora com aquela xícara de farinha peneirada... Larguei o boll com farinha em cima da pia.
Passando pela geladeira resolvi pegar dois ovos e comecei a bater até fazer uma espuma densa e firme. Firme como as atitudes que sempre tomei na vida, firmes como as mordidas o periquito australiano que criamos aqui em casa me dá quando quer brincar com meus dedos do pé.
A luz da manhã já invadia a cozinha e reluziu instantaneamente sobre o vidro de açúcar que estava na mesa, e fazia com que os cristais de açúcar brilhassem de um jeito que me convidasse a acrescentar o açúcar nos ovos batidos. E eu instintivamente peguei o vidro e coloquei 4 colheres de açúcar juntos dos ovos e continuei  batendo a mistura. Aproveitei também que o açúcar estava aberto e coloquei uma colherada de açúcar na minha boca – tenho este hábito desde criança.
 Mas naquele instante o açúcar me causou uma cede terrível pois ainda eu não havia comido nada nem bebido.Fui abrir a geladeira pra tomar um copo de água pra aliviar a invasão do açúcar no meu  paladar. De repente a caixa de maizena despencou da prateleira em que estava na geladeira, caindo nos meus pés – seria aquilo outro sinal?
Nem pensei duas vezes: esqueci de beber a água, peguei a xícara que utilizei para colocar a farinha de trigo que peneirei e medi nela, uma xícara de maizena. Depois coloquei  dentro da mistura de ovos com açúcar e mexi. Ficou meio mole. Comecei a rir da situação.

Peguei a farinha de trigo que peneirei e juntei à mistura na esperança de dar mais consistência. Até que resolveu.
Larguei a mistura ali na mesa e fui ligar o notebook pra ouvir música, como todos os dias. Aproveitei para ouvir a trilha sonora do filme (latter days), dei o play e como um raio, as ondas da canção me percorreram o cérebro, me dizendo o que eu deveria fazer com aquela mistura. Eu sabia...coloquei óleo pra esquentar e depois de quente fui fritando a massa ás colheradas.
Sequei os bolinhos com papel absorvente e depois misturei açúcar e canela pra polvilhar. Estavam lá os meus BOLINHOS DE CHUVA – os mesmo que faço pra animar os amigos tristes durante os dias de inverno. Inconscientemente ou coincidentemente meu cérebro sabia do que eu precisava  

Dias depois percebi que posso fazer bolinhos de chuva sem precisar  trazer  a chuva pra dentro de mim.

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